Rosas e rimas

Neruda disse que seus versos eram feitos de uma substancia opaca como a madeira e adquiriam brilho, luz, vida quando recebidos e lidos por sua amada Matilde.

Achei isso maravilhoso e fiquei a pensar no construtor de rimas.

Rimas, rosas...

Cultivá-las dá trabalho, mas ao fim trazem prazer.

Cultivar rosas requer paixão, senso estético, olho apurado pra perceber os pulgões se aproximando e destreza pra driblar os espinhos, afinal, quem quer ver rosas florescendo tem que se acostumar com seus espinhos.

Quando os olhos são premiados pela visão de roseiras desabrochando, os arranhões são esquecidos.

Penso que os poetas também têm esse tipo de sentimento. Chorar, transpirar para que a inspiração produza mesmo floradas abundantes.

Escrever, reescrever, rasgar o texto, polir uma palavra, alinhar a rima, limpar o excesso, garimpar um vocábulo precioso, escolher o sinônimo como alguém escolheria uma jóia preciosa pra se enfeitar e depois dar à luz aquele poema que vai encantar, tocar, falar aos corações. Parece um parto.

Poetas e jardineiros devem ter isso em comum.

YARA FRANÇA
Enviado por YARA FRANÇA em 16/08/2012
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