Um amor da janela.

Era assim todos os dias, uma rotina trivial. Eu adorava quando chegava a hora, e lá vinha ela, atravessava os meus olhos tão rápido como uma estrela cadente, mas me deixava a suspirar no seu rastro um raio de luz.

Minha mãe sempre me dizia quando saia para trabalhar:

"Fernando toma jeito, não quero encontrar um copo sujo na pia, quando eu chegar para almoçar".

Minha mãe trabalhava em casa de uma família muito rica, era rígida, gostava de me dizer que um dia eu seria alguém na vida, que iria fazer uma faculdade, e ser doutor.

Acordava cedo, lavava uns miúdos de louça do jantar no dia anterior, para minha sorte, eram poucos pratos, morávamos só nós dois, meu pai nos abandonou por um rabo de saia quando eu nasci, nunca cheguei a conhece-lo e também nunca me fez falta.

Ficava sempre de olho no relógio, as batucadas pareciam bater de acordo com meu coração, conseguia ouvi-los juntos.

08:00, de longe eu já reparava em seu caminhar, era como se houvesse um tapete vermelho, e ela desfilava com seu rebolado.

Vestia-se sempre com vestidos floridos, era tão encantador.

Seu singelo olhar, penetrante me dominava, faria qualquer coisa tê-los mais perto dos meus.

Seus longos e negros cabelos encaracolados que me lembravam uma dança em perfeita harmonia.

A cor de sua pele, era de um bronzeado único.

Ela passava todos os dias em frente a minha casa, se quer me olhava, mas eu suspirava mesmo assim, ganhava o meu dia, estaria eu, apaixonado?

Um dia, tive a ideia de lhe oferecer uma rosa, roubada do jardim da minha mãe.

Chamei-a, "ei, moça bonita..." - estendendo a rosa em sua direção -

Ela se virou, me olhou e senti meu coração disparar, não saberia qual seria sua reação, e então, veio o mais mágico, incrível sorriso de todos os sorrisos que já vi na vida.

Ela chegou perto da minha janela..e disse:

"Muito obrigado anjinho, você é um doce"

Naquele momento tive certeza, sim, estava apaixonado.

No dia seguinte, minha mãe não foi trabalhar...fiz tudo novamente como todos os dias, corri para a janela, e lá vinha ela...que rebolado, que cabelo, que sorriso...quando senti uma mão quente apalpando meu ombro, dizendo:

"Meu filho, quando você crescer e virar doutor, tenho certeza que arranjará uma moça tão formosa como Catarina" - virando-se de volta à cozinha..-

Catarina...era seu nome.