"FIQUE COM DEUS, LEVI"

Há situações em que palavras são supérfluas e o silêncio se torna mais eloquente que qualquer discurso. Ele revela a nossa impotência e ignorância diante do mistério da existência. Hoje vivi um momento assim. Soube que um filho de um casal que conheço há muito tempo havia falecido. Ele tinha apenas oito anos de idade e seu nome era Levi.

Eu, minha esposa e mais um casal fomos ao velório. O trajeto foi feito em silêncio. Lá chegando, cumprimentei o pai da criança e me dirigi à mãe. Ela estava em frente ao corpo de sua amada criança. Então, ela começou a narrar os momentos que antecederam a morte de seu filho no dia anterior. Contou como ele acordou e foi passear, aparentemente se sentindo bem, até a hora em que seu pequeno coração parou de bater no fim da noite. Falou da dor inominável que sentia e lembrava como seu filho era terno e temente a Deus. Entre uma frase e outra, chorava.

Enquanto ouvia seu relato meu coração se apequenou. Nenhuma palavra de consolo veio a minha mente. Nenhum consolo humano existe nesta hora. Que palavras podem sarar aquela que é conhecida como a dor maior? Não me atrevi a arriscar jargões consagrados para momentos fúnebres. Eles não têm a menor valia nesta hora. Não tentei aparentar que sei o que está por trás dos desígnios divinos. Há coisas que não são reveladas aos homens.

Após algum tempo, nos despedimos. Dei um caloroso abraço na mãe que parecia órfã. Apenas pude dizer que Deus estava com ela. Passei a mão nos cabelos da criança e beijei sua testa fria. Em meu coração um desejo: “Fique com Deus, Levi”.

Então, voltamos.

Da mesma maneira como havíamos ido.

Em silêncio.

Eloquente silêncio.

George Gonsalves
Enviado por George Gonsalves em 02/10/2012
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