Suado... sarado.

Ar abafado. Temperatura nas alturas, ou, melhor no caldeirão do inferno. Sombra e água fresca é o desejo de todo trabalhador braçal. Carlão fica o dia todo ao ar livre perfurando asfalto, concreto..., com uma britadeira. Suór escorre por seu corpo empapando a camiseta. Solteiro por opção! Muitas mulheres passaram pelos seus braços de halterofilista. Cultua o corpo. Nas horas vagas a academia é o seu point preferido.

Ela é enfermeira. Por sinal é uma instrumentista muito capacitada. Tímida faz da sua profissão verdadeira vocação. Tipo mignon... cabelos ruivos, longos, encaracolados. Procura sempre ter o controle de tudo na vida. Higiene é a sua marca registrada. Considera-se fria para o amor e para qualquer relacionamento amoroso. Alguns colegas de trabalho de língua ofídia a apelidaram de iceberg.

Semana do natal Carlão corta o asfalto ao lado do hospital... troca de tubulação da rede de esgoto. Braços suados. O carro de som passa tocando Jingle Bells. Coração do homem dispara na lembrança. Infância pobre mais muito feliz. Nisto, ela desce pela calçada. Roupa impecavelmente branca. Sapatos de salto brancos. Cabelos tomando conta dos raios do sol. Linda! Totalidade e unamidade no sex appeal. Todos os trabalhadores param e a admiram. Assobios e galanteios, uns até grosseiros sugerindo atividade sexual.

“Este filé eu quero na minha cama!”

Carlão a olhou com olhos de ave de rapina. Lembrou do último filme de James Bond que assistiu... a atriz Halle Berry, a bond girl morena, saia do mar com o biquíni branco, vinha em direção da platéia, os diretores de 007 “Um Novo Dia Para Morrer” copiaram a cena em que Ursula Andress saia do mar no filme “007 Contra o Satânico Dr. No”. Ali, naquele calor de 38 graus Carlão vê passar sua Bond girl. Linda! Paixão a primeira vista. Ela, ali naquele mar de asfalto...

Opostos se atraem... Suzana bateu os olhos naquele homem suado... langor, vertigem... mistura de odores nada perfumoso atravessou suas narinas. Desceu a rua levando na memória Carlão; como um todo.

A obra na rua se torna um transtorno para os doentes do hospital, moradores, transeuntes... menos para Suzi. Terça-feira, dia de plantão. Corredor do pronto socorro entupido de adoentados. Cirurgia de emergência. Suzi compenetrada com os instrumentos. Ajuda mais que necessária ao cirurgião. Mais uma vida salva. Vítima de bala perdida.

Espanto! Ali estava ele, de pé quebrado. Muita dor. Um riso de contentamento no rosto. Sua musa passa por ele. Nuvem de Eternit, o perfume da paixão. Joga um olhar enigmático. Carlão atira um beijo e geme de dor. Ela vai até ele... ali, diante de todos, eles acertam o encontro das suas vidas.