Eu Perdoo, Abençoo e Liberto...

Há muito venho exercitando a prática do perdão em minha vida. Hoje estou pouco mais desleixada, por isso, vejo que muitas áreas de minha vida estagnaram, o que tem me obrigado a retomar esta atividade que desenvolvi com muito empenho obtendo muito sucesso no passado.

Para perdoar, porque eu me refuto de carregar o baú de coisas inúteis, passei por várias etapas. Primeiro, segui à risca os exercícios do livro Terapia do Coração Aberto de Bob Mandel. Meses depois, rezei com afinco o terço do perdão da igreja católica. Mais tarde, depois de muitas vivências, resumi tudo na seguinte frase: “Fulano (a) eu te perdoo, te abençoo e te liberto”. Frase fácil que eu podia expressar em pensamentos em toda a parte, fazendo o que quer que fosse. Perdoar, abençoar e libertar. Libertar da mente a pessoa. Quando prendo-a em meu mundo mental me torno escravo da mágoa.

Ao emitir a afirmação formou-se uma fila imensa de pessoas que eu precisava perdoar com urgência. Coisa pouca. Intrigas, pequenas falsidades, fofoquinhas, traições, deslealdade, divergência, mal entendidos em meu dia a dia. De repente ânsia de devolver tudo que eu tinha ingerido durante o dia. Então resolvi colocar num saco de papel os nomes de todos e gritar a afirmação que criei. Com muito gosto, fiz. Que alívio!!!

O processo teve início em 1995, perdoar pai, mãe, Deus e a mim usando a tática bíblica setenta vezes sete, durante sete dias. Aqui vai um alerta: quando você começa tudo parece pior. Envolto numa tempestade, numa avalanche, num tsunami de sentimentos, forma-se um nó na garganta, e uma vontade louca de quebrar a caneta, rasgar o papel. Consequentemente uma falsa certeza que aquilo que te fizeram não merece perdão. Mas você que é gente boa, cristão, dotado de inteligência, claro, não quer viver dia após dia, com um nó na garganta todas as vezes que ver a pessoa ou se sentir mal quando alguém a elogia. Implacavelmente, entende que a vida lhe apresenta duas escolhas: continuar acariciando, alimentando a mágoa ou se livrar dela com boa vontade reconhecendo que a mágoa só faz mal a quem sente e a quem se agarra a ela.

Sete dias da semana para perdoar setenta vezes. Haja tempo. O primeiro e o terceiro são os mais críticos. Mas tudo se acalma, passa. Experimente o sabor do mel, o frescor da brisa, o sono dos justos, a calma divina, a vitória dos fortes, a alegria dos palhaços, o alívio da dor.

Não há aventura mais frenética do que perdoar. Quem busca perdão não tem tédio. Todos os dias experimenta uma emoção nova. Já pensou perdoar Deus por ter levado o ente mais querido, mais necessário em sua vida? São atividades para preencher todo o seu dia. Nada de dizer que não tem muito a fazer. Perdoar é ação, é boa vontade, é para aquele que se recusa a carregar um baú de mágoas, causadoras de dor de cabeça, problemas na coluna, gastrite, dor de ouvido (é duro ouvir o que você não quer, o que você não merece), dor na garganta (é ruim não poder falar o que sente).

Eu costumo construir uma imagem daquele que resiste ao perdão. Visualize:

Uma lata cheia de água na cabeça, dois sacos de areia um em cada ombro, duas correntes nas duas pernas com uma bola pesadíssima em cada uma para arrastar, e fios de aço na cintura amarrada a um poste impedindo os passos necessários para alcançar uma vida de qualidade, boa formação profissional, paz na mente, paz na família, bom emprego, cura de uma doença, etc...

Ao emitir as afirmações vem à tona todos rancores. A lata transforma-se em um tonel, são as lágrimas derramadas. Com o continuar, o tonel volta a ser lata e rompe-se uma aberturinha no fundo. Uma água fresca se for verão; morna se for inverno descendo sobre a cabeça aliviando as dores. Com mais afirmações os sacos de areia também são furados e a areia escorrega aliviando os ombros. Mais afirmação, e a bola de um pé se dissolve da corrente, depois, a do segundo. Mais tarde, com mais afirmações as correntes que prendiam-no em um poste se soltam. Desaparece a dor de cabeça, dos ombros como se fosse mágica. Os caminhos se abrem. Segue-se resoluta em busca dos sonhos e Deus vai conectando os fios das boas energias para você realizar o que idealizou a vida inteira.

Quem traça o caminho do perdão sente o mesmo de quem pratica esportes radicais, perigosos. A diferença é que nesses esportes corre-se risco de morte. Mas para aventurar-se no perdão você experimenta tudo de sentimento. O Único risco é o da libertação.

O importante de estar disposta a perdoar em exercício continuo é você perceber que também errou. Aí começa a trabalhar o perdão em si. Reconhecer que não foi perfeita. Sair da posição de vítima, de coitadinha e admitir que também foi um ator principal deste drama. Perdoar a si mesmo setenta vezes sete durante sete dias, de vez em quando, liberta a gente.

Quando você quer perdoar descobre virtudes nas pessoas não percebidas antes. Desejar bem para ela: saúde, paz, serenidade. Desejar para a pessoa tudo que você quer para si.

Eu sei! Não é fácil!

Tem algo interessante para dividir quando comecei a percorrer os caminhos do perdão. “Eu perdoo, abençoo e liberto.” Nada acontecia. A não ser os resmungos de um coração ferido, de uma mente conturbada pela nuvem negra do rancor e desejo de vingança. “Coitadinha de mim”. “Eu fui tão ferida e Deus nem tomou partido.” Eu sabia que não podia vê as coisas por esse ângulo. Aprendi a duras penas que nem sempre o que se sente tem razão para sentir. A partir dessa compreensão me conscientizei da carência de uma ajudinha a mais. Reeditei a oração de novo.

Fulano (A), com a graça de Deus, eu te perdoo, te abençoo e te liberto.

É neste contexto que me encontro atualmente. Posso os dias perdoando com a graça de Deus e do Divino Espírito Santo. Eu quero! Eu posso! Eu consigo! Deus me concede a graça todos os dias. Eu só preciso me conectar com a divindade através da vontade de perdoar. A vontade de perdoar faz toda a diferença.

Luz Ribeiro, 09 de outubro de 2012

Luz Ribeiro
Enviado por Luz Ribeiro em 09/10/2012
Reeditado em 28/07/2013
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