A alma aprisionada entre os dentes

Tinha os cabelos tingidos já que a superficialidade da moda exigia.

O olhar indeciso de quem me quer e não me quer!

Descobriu-se entre as alegrias infantis e o sorriso das idosas, com seus semblantes de eternidade.

A predisposição para a mímica queria imitar tudo aquilo. Os gestos singelos da cumplicidade!

Queria ser criança outra vez, brincar entre bolhas de sabão;

Queria ter a idade exata, a dúvida amena, o brilho casto da razão!

Chegou a ouvir, saindo de dentro de sí, percorrendo o sangue, encharcando os poros, o grito de todas as ancestralidades:

O Sorriso é a alma do rosto! O sorriso é a alma do rosto! A alma... A alma... O sorriso!

Foi quando viu sicrana, mulher de sicrano, com o mesmo sorriso artificial: Cômico, trágico, algo como uma brincadeira de Arlequins e ansiedades de Pierrôs.

Viu-se desprezada pela alegria, pela beleza espontânea das rugas.

Perdera a coragem de olhar-se altiva, de se amar assim, como uma flor do espirito!

A máscara butolínica deformara seu rosto, dando-lhe imperfeições não imaginadas;

Um olhar deturpado de sí mesma: A consagração da farsa!

Derrepente o espelho, o brilho, o estar consigo, o olhar-se, o afligir-se!

Tinha aquilo para sí, para mirar-se diante da vidraça, numa contemplação de Narciso.

Aquilo era afinal, o inventário de sí mesma!

Tinha a alma aprisionada entre os dentes!