DA JANELA DE MEU QUARTO

da janela do meu quarto eu vejo tudo que se passa na rua e nos prédios aqui em frente. Moro em um apartamento classe média baixa com minha mãe e meu avo, daqui sempre dá para colocar as idéias em dia. O vento sempre bate mais forte, acho que estar no sétimo andar ajuda um bocado, e sempre que tem um problema na rua como batida de carro, assalto ao mercadinho da esquina, ou até mesmo briga de torcida organizada eu sempre estou por dentro sempre sei o que se passa.

Às sete horas da noite minha mãe vai trabalhar. Ela faz parte do turno da noite de um colégio do estado, ela é zeladora. Meu avô fica aqui em casa e toma conta de mim, mas para falar a verdade ele só dorme. Vou para o colégio às seis da manhã, sempre encontro minha mãe pelo caminho, eu estudo no mesmo colégio que ela trabalha, a única diferença que eu estudo de manhã e ela trabalha a noite. Minha mãe diz que eu devia estudar para não ficar igual meu pai, falando nele, minha mãe diz que ele foi embora para Rio Grande do Sul para trabalhar e nunca mais voltou, meu avo um dia me disse enquanto bebia cachaça que ele era um bêbado que abandonou minha mãe depois que ela engravidou.

Da janela do meu quarto toda noite vejo minha mãe sair, ir trabalhar, ganhar a vida. Acompanho-a com meus olhos daqui de cima até ela virar a direita e sumir na penumbra da noite. Também vejo quando o vizinho do quarto 206 chega toda noite e começa a brigar com sua mulher, já chamaram até a policia para eles. Minha mãe reclama que o salário é baixo, que um tal de salário mínimo não dá para fazer nem as compras do mês por algum motivo ela sempre fala isso no inicio do mês, minha mãe sempre reclama nesses tempos dizendo que o presidente pega tudo para ele, que já não sabe que conta deve pagar e como vai comprar comida, e como vai pagar o aluguel. Minha professora me explicou uma vez antes de ter essa greve dos professores que o salário mínimo é o menor salário que um brasileiro pode receber e que ele aumenta gradativamente todo ano.

Eu me pergunto daqui de cima todos os dias enquanto olho a rua da janela de meu quarto. Será que todos os brasileiros são assim? Ou seja, não tem muito dinheiro sempre reclamam, tem que trabalhar a noite. Eu já perguntei isso para meu avô uma vez e ele me mandou ir dormir e que eu era muito criança para entender. Será que eu também serei assim? Será que também não terei dinheiro? São perguntas que eu penso toda a vez que eu estou aqui, na janela de meu quarto no sétimo andar vendo os carros passando lá em baixo