A cadeira

Acordei meio tonto. Olhei em volta, um lugar meio pútrido parecia um porão antigo. Ratos, baratas, canos para todos os lugares, havia um cheiro muito estranho de bolor, sei lá um cheiro que deixava qualquer um tonto. Minha cabeça doía muito, consegui sentir o gosto do sangue na minha boca, ainda não tinha notado, mas estava muito ferido. No outro lado da sala havia um bastão de beisebol, que de passagem um esporte que eu nunca gostei, esse bastão estava ensangüentado, temi que esse sangue fosse meu.

O silencio estava me fazendo bem, só o barulho do ventilador fazia meus tímpanos explodirem de dor, ainda não sabia o que estava acontecendo ou onde eu estava e o que teria acontecido, estava tudo em volto de uma nevoa em minha cabeça, só havia uma alternativa, pegar o bastão para alguma alternativa violenta que eu venha a ter.

Tento me levantar, por algum motivo eu não consigo o que aconteceu? Tento me levantar novamente, nada, finalmente olho para minhas pernas, eu não havia notado que estava acorrentado a uma cadeira. Era uma cadeira daquelas de bar com o assento vermelho apesar de que a maior parte do vermelho da cadeira era de meu sangue. A cadeira parecia ser bem velha, suas hastes de metal já estavam bem enferrujadas e as correntes que me prendiam pareciam ser usadas em alguma coisa com óleo.

Eu não poderia ficar ali por mais tempo, decidi usar uma coisa que sempre usam nos filmes... Quebrar a cadeira. Comecei a balançar que nem um pendulo, a cadeira começou a se mexer para trás e para frente num movimento frenético, o barulho que ela fazia doía na minha cabeça, uma hora um de nos dois ia ceder a dor e felizmente ela desistiu primeiro cedendo. Na sala vazia ecoou um barulho que até que não foi muito alto. Tinha me libertado, a coitada da cadeira estava em pedaços agora, eu estava livre! Corri para o outro lado da sala e peguei o taco de beisebol que estava empapado de sangue, logo após tentei abrir a porta que para minha surpresa (ironia) estava fechada. Eu sabia que não havia guardas na frente dessa porta senão eles ouviriam o estrondo da cadeira, mas pode haver guardas nas redondezas e certamente eles estarão armados, eu não seria páreo para eles com um taco de beisebol.

Lembrei-me de um objeto que sempre odiei carregar, mas agora talvez salve minha vida, meu celular! Procuro nos bolsos que eu me lembrava ter, no bolso interno do casaco, sim ali estava ele, bem eu sempre tive sorte, meu celular como eu te amo! Tive medo dele não funcionar por causa da queda, mas felizmente meu medo não se realizou, apertei o botão vermelho e a luz azul se ascendeu como uma esperança ou uma arvore de natal, disquei 190 com minhas mãos tremulas, alguém atendeu do outro lado:

- Departamento policial de Fortaleza, ceara boa noite.

- Por, por favor, alguém me raptou eu, eu não sei onde estou por favor...

- O senhor foi seqüestrado é isso?

- Sim, sim por favor mande uma viatura sei lá alguma coisa.

- O senhor sabe onde está?

- Não eu não sei onde estou.

- Fique calmo, mandarei alguém rastrear a linha, mantenha seu celular ligado!

- sim, sim pode deixar – Minha única salvação, talvez a ultima.

Minha cabeça começava a latejar novamente, com o celular em uma das mãos e a taco na outra, procuro algum lugar para sentar... ah como eu queria aquela cadeira.

Ouço passos, começo a entrar em desespero, se o cara me deixou acorrentado e que ele iria voltar, me aproximo da porta para ver se consigo ouvir alguma coisa. Ouço dois caras conversando:

-... Cara e o jogo saiu dois a zero.

- Que droga! Tsc, Agora tenho que matar o cara! – fico sem fôlego atrás da porta.

- Ei Vinnie o que o cara fez para máfia?

- Velho, tu não sabe? Esse cara vai depor contra nos, o Miguel mandou nós apagarmos o cara – Engulo o seco, agora as coisas eram mais claras e minhas memórias saiam da nevoa que se escondiam.

Eu presenciei um assassinato de um dono de jornal, um tal de Vinnie caligulas e Miguel Toro da máfia mexicana mataram o cara com alguns tiros depois de tortura-lo. Esse dono de jornal publicou algo sobre a máfia mexicana os famosos Filhos do México que traficavam drogas por aqui, bem eu presenciei todo o assassinato e ia depor quando alguém parou na frente de meu carro com uma arma na mão e me raptou.

Continuei ouvindo a conversa:

- Vou fazer isso rápido, quero ir para casa assistir TV.

- Ok Vinnie, boa sorte! – Huh, um boa sorte para me matar.

A tranca da porta começou a tremer, não era hora para ter medo, me escondi na penumbra perto da porta e esperei o maldito abrir-la. Dito e feito ele abriu a porta devagar, o filha da mãe estava rindo segurando uma lata de cerveja na mão, guardei meu celular no bolso e o ataquei. Uma só, certeira, na nuca, com um baque o corpo caiu, o sangue começou a brotar desenfreada mente, certamente estava morto mas quis me certificar batendo novamente, eu acho que Vinnie não vai mais assistir tv.

Saio do recinto, as luzes machucam meus olhos e minha cabeça dói enquanto corro, certifico se o celular ainda esta ligado, e continuei a correr, abri uma das portas e dei-me de cara com o outro capanga pegando um refrigerante da maquina. Ele caiu, logo depois a lata de Coca-Cola o sangue espirrava de sua cabeça, o taco sujo e grudento com sangue, nem me passou pela cabeça que tinha matado dois homens, dois seres vivos, duas pessoas, mas nessa altura do campeonato não me importava mais, só queria viver.

Finalmente a porta com o nome saída logo acima, ela estava com um cadeado, mas para quem matou dois homens um cadeado não é nada, o quebrei com o taco e empurrei a porta com toda minha força. A luz mais linda que eu vi na minha vida foi a de um poste na rua, a luz da liberdade, a luz da vida, essa luz me lembrava que escapei da morte sim escapei da morte e matei. Sai andando pelas ruas cambaleando, vi um ônibus próximo, dei sinal o ônibus parou e abriu a porta. Cheguei à frente do cobrador, não tinha dinheiro apesar de estar com minha carteira, eles me roubaram, nem me passou pela cabeça de ver se eles tinham dinheiro, a única coisa que eu tinha era o celular que tinha acabado de desligar sem bateria.

- Olha, eu, eu só tenho esse celular, por favor me deixe passar – indaguei meio tremulo, e trocador me olhou desconfiado.

- Hum... Ótimo passe.

Passei sem falar nada, ele pegou o celular e o guardou rapidamente. Foi a passagem de ônibus mais cara que eu já paguei na vida. O ônibus estava praticamente vazio, um velho tossindo lá traz e um homem de terno e gravata em pé pronto para descer. Sentei-me e vi a cidade passar diante meus olhos, não me importava para onde o ônibus ia, eu só queria sair dali, vi as horas rapidamente por um relógio-termometro de rua, eram três da manha. O ônibus cortava a noite, me senti tranqüilo, não tinha notado que tinha trazido o taco comigo, heh acho que vou dormir um pouco para chegar mais rápido...

EPILOGO

A POLICIA NUNCA CHEGOU, OS CORPOS FORAM ACHADOS POR MIGUEL, EU NUNCA FUI DEPOR, EU SAI DO PAÍS FUI MORAR NO EXTERIOR PARA SER MAIS EXATO NA EUROPA E NUNCA MAIS FUI VISTO NO BRASIL.