Separação

S E P A R A Ç Ã O

Francisca e Raimundo estavam casados há alguns anos. Ainda nem tinham completado suas bodas de madeira, ou seja, cinco anos de casados, mas relação entre eles estava totalmente desgastada. Faltava “aquele” tempero que sustenta uma feliz união que leva as “ bodas de ouro” ou quem sabe as “bodas de nogueira ou carvalho” ( oitenta anos) se a idade de ambos permitir o que não é tão difícil hoje em dia, já que a nossa expectativa de vida aumentou.

Havia, no entanto muito respeito um pelo outro, por isso mesmo Raimundo queria por fim no relacionamento sem magoar Francisca, que reconhecia ser uma boa pessoa apesar de nada em comum com ele. Passado o fogo da paixão que nem chegou as “bodas de papel” (dois anos) a vida deles virou uma triste rotina. Ele queria sair com amigos, paquerar as meninas, tomar sua cachaça e ficava constrangido em deixar sua esposa sozinha a sua espera. Ela nada dizia o que era para ele pior ainda. Bom se ela brigasse, xingasse e reclamasse, seria melhor para um acerto de contas e ponto final. Mas assim, nada se resolvia.

Cada dia que se passava ficavam mais distantes e Raimundo começou a sair frequentemente com amigos, chegar tarde e ela sempre lhe esperava sentada no computador fazendo hora esperando o marido chegar para preparar o jantar, servir um café e fazer aquelas obrigações de esposa tradicional. Entregava o pijaminha na mão, o chinelo e tudo enfim.

Não havia, portanto, um motivo justo para acabar de vez com o casamento. Francisca era uma mulher fiel, nunca conheceu outro homem, além de seu esposo. Essa sensação de ter sido o único homem na vida da esposa fazia sua consciência doer quando ele arranjava as namoradinhas para se divertir caindo na orgia.

Ela sempre dedicada, ficava até tarde da noite na internet esperando o marido chegar para lhe dar as devidas atenções. Era o computador seu companheiro já que nem diálogo com o marido tinha mais.

Mas como tudo tem início, meio e fim, chegou o dia. Uma gota d´agua qualquer foi o suficiente para encorajar Raimundo a por fim na relação. Para surpresa dele, ela aceitou passivamente a situação.

Raimundo jamais imaginou que a separação entre eles fosse consensual. E com muita postura, equilíbrio emocional, começaram a dividir os bens. A geladeira é sua, o fogão é meu, o carro e a casa a gente vende e divide o dinheiro ao meio. Tudo acontecia em comum acordo até quando chegou o momento do computador. Ambos queriam ficar com ele. Raimundo porque era seu instrumento de trabalho e Francisca porque o computador era seu companheiro, seu amigo, seu amante que lhe fez suportar o desprezo do marido, que escutava suas mágoas, que lhe fazia passear por todo mundo enquanto estava sozinha e desprezada.

Como não chegaram a nenhum acordo a respeito de quem ficaria com o computador, a separação passou a ser litigiosa.

Pode uma coisa dessa?!!!

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 25/02/2007
Reeditado em 24/05/2020
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