O Dia

Hoje acordei cedo, era sete e trinta mais ou menos, estava frio, não tinha vontade de levantar, mas não queria mais dormir, só ficar ali, olhando para o teto, só que precisava sair, o dia é tão longo, e é tanto para fazer, fazia frio.

Eu levantei, vesti-me para mais um dia, com o uniforme habitual, não chamo a atenção, as mesmas calças, mesma camisa, mesma blusa, que todos usam, pelo mesmo motivo. Está frio, é inverno, mas o sol está aberto, saí para os fundos de casa, a grama ainda guarda o gelo da noite fria, e o sol as ilumina como se fossem pequenos cristais espalhados por todo o chão, derretendo, gota a gota, com todas as lembranças da noite que passou.

Está frio, vou onde a luz do sol bate com mais intensidade, o frio ainda está no ar, mas aquele calor vindo das alturas, que brilha todo dia, começa a me aquecer, a sensação é boa. Fico ali parado, olhando a grama, o gelo que se desfaz, as ramagens das árvores ao longo da estrada, não há vento, nem uma brisa, carros vão, carros vem, pessoas passam apressadas, o dia, a vida os chama, mas eu estou ali parado, na verdade não penso em nada, apenas observo, a vida passando sem nenhuma razão além de sua maravilhosa condição de vida.

Parece que fiquei tanto tempo ali parado, sem pensar em nada, não foram nem dez minutos, tenho que sair, é tanto para fazer, tantos compromissos inadiáveis, Ah!... como essa vida é urgente, sigo para mais um dia, produzir arduamente o dia inteiro, repetindo os mesmos movimentos, fazendo exatamente o mesmo de ontem e antes de ontem. Produzir, adquirir, as horas são poucas, e a tanto para se fazer.

A manhã passou, o dia chegou ao meio, preciso me apressar, a tarde é longa, mas não tanto, nada pode ficar para amanhã, não se pode deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, é o que dizem, mas se faço tanto hoje, o que fica para depois. É preciso ser responsável, ter deveres e corresponder as expectativas, tenho que crescer, adquirir, o mundo passa rápido e não posso ficar para trás, devo acompanhar o passo, o ritmo que me obriga a correr, a tarde já está no meio, Deus!, há tanto para fazer.

O dia se foi, mais um no calendário da vida, outro que passou com suas horas, seus dilemas, compromissos importantes, que agora, depois de realizados, não importam mais, meu dia foi produtivo, mas parece tão vazio, como se ele sequer tivesse existido, as horas que passaram, carregadas de suas obrigações e ordens, sumiram-se no ar, trasparentes. E de tudo que fiz o dia inteiro, tantas coisas importantes, só me restaram aqueles cinco minutos, cinco que não produzi, não fui responsável, cinco minutos que pareciam tão longos, cinco minutos...onde não pensei em nada.

maicon fran
Enviado por maicon fran em 25/02/2007
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