PAI

Sempre que podíamos, íamos meu pai e eu, sentar no meio de

frondosas árvores. Tínhamos um local predileto, de lá podíamos

ver o Vale quase que por inteiro. Nossa casa ficava no meio de uma

colina, e bastava subirmos um pouco mais, para apreciarmos a

beleza deslumbrante que se descortinava diante de nossos olhos.

Conversávamos, discutíamos e remexíamos nossos

pensamentos de maneira aberta e amiga. Assim fazíamos, quase

todos os dias, e depois de um determinado tempo, efetuávamos

nosso trabalho: cuidávamos do campo, dos animais e da floresta.

De todos os conceitos que meu pai me passou, há um diálogo, que

jamais esqueci, não digo que foi o mais importante, mas foi, sem

dúvida, o que marcou minha vida e que ainda hoje, está sempre

presente no meu dia-a-dia.

Era uma manhã como tantas outras, porém, não sei por qual

motivo, sentia-me triste, abandonado e, até mesmo, propenso a

abandonar a família e sair em busca de uma nova vida, na cidade

grande.

– Então, meu filho, por que tanta tristeza? – disse ele, enquanto

jogava pequenos gravetos em torno de um formigueiro. O velho

gostava de ajudar aquelas criaturinhas que embora frágeis, eram

formidáveis no trabalho diário.

– Não sei pai, acho que não devia existir esse sentimento. Sei

que estou triste, mas não gosto de me sentir nesse estado.

Meu pai passou a mão em meus cabelos, depois jogou mais

alguns gravetos no formigueiro e disse.

– O que seria da alegria se não houvesse a tristeza?

– O mundo seria melhor, muito melhor – respondi.

Meu pai balançou a cabeça negativamente, e falou o seguinte.

– A tristeza! A angústia! A dor! São pequenas gotas de chuva,

caem, no início, suavemente, depois aumentam e formam uma poça

e em algum tempo, torna-se um córrego, e mais tarde, um rio.

Alimentam o solo, criam a vida e nos dão água para nossa

sobrevivência. Nós precisamos sentir os dissabores da vida, para

sabermos saborear as boas coisas que, a maioria das vezes, passam

despercebidas.

– É pai, mas o que adianta a chuva, se não tivermos o sol. –

ponderei, tentando colocar um pouco de dúvida na mente do meu

velho.

– Exato filho, o sol, com seus raios maravilhosos, é o mesmo que

o amor, que a alegria, que o prazer. Ele penetra em qualquer fresta,

em qualquer ponto que lhe seja permitido passar com sua luz e com

seu calor. Assim, como o solo não dará bons frutos com a chuva em

abundância, também não frutificará com o sol ardente.

Necessitamos de ambos, da chuva e do sol. Na vida ocorre a mesma

situação. Precisamos cultivar os bons e os maus momentos, só assim

seremos felizes. Homem algum, em época alguma, conseguirá

viver só de alegrias, sempre sentirá, como agora você sente, a

necessidade de procurar um novo ponto de apoio, um

conhecimento maior sobre os acontecimentos. A vida é assim,

aquele que consegue aproveitar seu dia-a-dia, tirando proveito de

tudo o que ocorre com seu corpo e com sua mente será, tenha

certeza, um homem feliz. Feliz porque soube aproveitar os

acontecimentos, as frustrações e as alegrias. O fruto da bondade

frutificará em seu coração. Será regado pela tristeza, pelas dores, e

receberá o calor do amor e do prazer.

Sorri. Como era bom poder ver e ouvir o meu pai. Levantei-me,

ele fez o mesmo. A nossa hora de descanso já tinha chego ao fim, um

dia talvez, já não pudesse mais aproveitar aqueles momentos de

sabedoria e bem estar, mas assim como ocorreu hoje, eu sempre

lembrarei do meu pai, enquanto o coração pulsar em meu corpo.

Obrigado, pai.