Estaríamos nós aprendendo a votar?

Por Herick Limoni*

Sempre tive pela política certa desconfiança, em muito alimentada por episódios recentes como a “máfia das ambulâncias” e o famigerado “mensalão”. Para mim, a política sempre foi uma ferramenta à disposição das elites, vilmente utilizada para controlar as minorias, massa de manobra dos poderosos e políticos inescrupulosos. Ao contrário do idealizado por Alexis de Tocqueville - pensador francês que nasceu, viveu e morreu no século XIX e que sempre defendeu a democracia enquanto regime de governo - a “democracia” brasileira está longe do ideal, mas começa a dar sinais inequívocos de mudança.

No último pleito, a população começou a dar mostras de sua insatisfação, ao não (re) eleger políticos que há muito haviam se acomodado nas confortáveis cadeiras das câmaras municipais e prefeituras Brasil afora. Quero crer, entusiasticamente, que os resultados das últimas eleições não se deram pelo mesmo motivo pelo qual o palhaço Tiririca fora eleito o deputado federal mais votado em 2010. Prefiro acreditar que nosso povo, eterno marionete, está, de fato, aprendendo a utilizar essa arma tão poderosa: o voto.

Prova disso é que tivemos boas surpresas em diversas localidades brasileiras. No município de Contagem, em Minas Gerais, onde por muitos anos o poder ficou restrito entre dois partidos (PMDB, leia-se Newton Cardoso e PSDB, leia-se Ademir Lucas), o segundo, único dos dois a se candidatar, sequer foi para o segundo turno, fato raro no município. A disputa, por aquelas bandas, ficou entre o PT (situação) e PC do B (oposição, espera-se). Na câmara municipal houve uma renovação de 47.6 %, haja vista que 10 dos 21 parlamentares não foram reeleitos. Entre os que não foram reeleitos, podemos citar o caso do ex – vereador Kawpter Prates (PT), que estava em seu terceiro mandato consecutivo.

Na capital mineira, Belo Horizonte, a câmara municipal teve uma renovação recorde de 54%, pois apenas 19 dos 41 parlamentares foram reeleitos. Entre os “perdedores” há alguns que ocupavam a cadeira a vários mandatos, tal como Neusinha Santos (PT), Cabo Júlio (PMDB), Geraldo Félix (PMDB), Moamed Rachid (PDT) e Maria Lúcia Scarpelli (PcdoB). Não sei se estou tendo uma visão romantizada da situação que se apresentou, mas sinto que a população começa a se desvencilhar das amarras do inconformismo que sempre impediu uma (re) evolução no cenário político nacional.

Confesso que já estava descrente com a democracia, mas, em razão dos exemplos citados, darei um voto de confiança a Tocqueville, com uma importante ressalva: nós só teremos um “governo do povo” quando aprendermos a fazer bom uso do nosso voto.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas