A GUERRA DO FOGO

Quando o homem pode produzir fogo com suas próprias mão selou o destino de toda a humanidade. Desde o primeiro momento nossos pais, até poderíamos dizer Adão e Eva mas isso seria ironia, se dispuseram a mudar suas vidas a custa da soberania, da conquista e do repúdio. Relações cada vez mais complexas foram criadas ou criaram-se, porque parece que a coisa tomou vida própria, e grupos cada vez maiores foram subjugados para que o sentido de fazer parte de uma elite trouxesse alguma recompensa. Sabemos que hoje as guerras se fazem desnecessárias como as que o século 20 viu acontecer, sabemos que um território pode ser dominado sem que uma gota de sangue seja vertida bastando que uma franquia se instale na esquina. E são muitas marcas e modelos, o mercado oferece sempre vantagens para os investidores.

No entanto a guerra do fogo se estende nos subterrâneos dessa relações que, na superfície, parecem mudadas. O fogo do qual falamos não é mais que chama para outros fins, estamos a falar sobre a oferta e a procura de entorpecentes no mercado ilegal das ilusões.

Parece-nos que a chamada pacificação dos morros e nos carteis cariocas tem exportado para o interior as facilidades e necessidades que têm as estruturas da loucura, o resultado é termos em cada esquina uma torrente de mercadorias dos mais variados efeitos epidêmicos. Enquanto isso o governo trabalha para por fim ao consumo de cigarros que são comprados inclusive nas padarias. Acabo de ver porque comprei, e por isso escrevo, um maço de cigarros Derby. No verso da embalagem vemos a já tradicional figura exagerada e dramatúrgica dos perigos da ingestão do tabaco, na frente do produto um selo adesivo que nos avisa a promoção "2 selos +3,50 = um outro maço". Um desconto de 1,00 para quem fumar 2 maços. Um incentivo e tanto para quem é viciado e fuma pelo menos 1 maço de cigarros por dia.

Só poderia concluir, de forma irônica intenda, dizendo: fume! Se acaso estivesse disposto a não mais nadar contra a maré. Não é o caso, ainda paro de fumar e aviso: essa guerra do fogo está longe de terminar.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 18/10/2012
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