PRIMEIRO BEIJO

Final de domingo, eu estava sentado no banco da Praça, calmamente lendo um jornal.

A minha frente Gastão o pipoqueiro, afoitamente atendia todos os seus costumeiros clientes. Pipoca com queijo, com beicon.

Quase do seu lado, a imagem da Santa Terezinha, cercada, gradeada. No meu tempo de criança ela ficava livre, podíamos sentar em suas escadas e olharmos a Igreja de frente, ou então os jardins. Agora não, os vândalos a pinchavam, e o único jeito foi coloca-la sobre grades.

Eu a tudo observava, foi quando percebi uma linda menina loirinha, talvez dez, no máximo 12 anos de cabelos encaracolados, vestido curto, maquiada, sentar-se em um banco próximo ao meu.

Bolsa a tiracolo. Celular na mão. Parecia uma mulher menina, ou uma menina mulher.

Olhei para ver se os pais estavam por perto, não ela estava ali sozinha. Continuei a observa-la, a todo minuto mexendo no seu moderno aparelho de comunicação.

Alguns rapazes mais velhos a olhavam-na com atenção, ela porem colocou o fone de ouvidos, e parecia não ver nada, além do visor do seu celular.

Fiquei intrigado. quem ela estaria esperando.

Passaram se 10 minutos, depois 15, e a jovem menina mulher, afoita se levantou olhando em direção a Igreja.

Um jovem de bike, cabelos compridos que lhe cobriam os olhos, bermudas, boné com abas laterais, veio em sua direção como um louco disposto a fazer manobras alucinantes para agradar sua amada. Parecia um cavaleiro medieval disposto a conquistar sua princesa.

O jovem não tinha mais de doze anos, isso eu tinha certeza. A bike rodopiou em frente da menina loira, acelerou em minha direção, no tempo suficiente para eu sair do banco, e ele empinando o seu cavalo (bike), fez um salto majestoso, dando uma pirueta no ar, e caindo em posição correta em frente à amada deslumbrada.

Fiquei furioso, ele poderia ter se quebrado todo, e eu ser ferido gravemente.

Fui em direção ao casal, estava verdadeiramente emputecido;

A bike agora jogada no chão, e os dois em um longo beijo. Não era um beijo inocente, não era o primeiro com certeza, era um beijo lingual-, exacerbadamente maduro.

--- garoto... Que é isso. – indaguei ainda nervoso com a manobra que ele tinha feito.

--- oi Vô, tá por fora mesmo, isto é um beijo. – disse ele sorrindo. Tive vontade de rir também, mas não era do beijo que eu criticava. Agora eu estava duplamente irritado, ele me chamara de Vô sem ao menos conhecer-me.

--- quantos anos você tem? – indaguei. A menina de cabelos encaracolados parecia estar babando pelo jovem príncipe, seus olhos reluziam e ela pedia uma nova dose do beijo quase promiscuo.

--- doze.

--- e ela. – indaguei.

--- eu, onze.

--- caramba, o meu primeiro beijo foi com quinze. – retruquei olhando nos olhos do jovem casal.

Ele riu.

--- putz, os tempos mudaram.

--- eu sei. O problema é a falta de respeito. – reclamei.

--- desculpe Vô, mas é o nosso primeiro beijo, eu tinha que fazer a cena, sabe como é, chegar arrasando. – o garoto riu.

Bati nas costas do jovem e impetuoso cavalheiro, e voltei a sentar-me no meu lugar de costume, mas não conseguia mais ler o jornal.

Os beijos foram tantos, os abraços, os carinhos, que eu pensei.

Daqui a pouco estarão transando no meio da Praça.

Pela Nossa Senhora, Santa Terezinha, como a Praça mudou.

Acho melhor eu terminar de ler o jornal em casa.