O TEATRO MÁGICO

Quando as cortinas se abriram assisti o mundo ser criado diante dos meus olhos. Estava no cinema pela primeira vez aos oito anos acompanhado de uma vizinha, a mãe de Beatriz. Era o cine Vera Cruz de Uberaba e ela exalava as mil e uma noites Contoure cujo frasco de cristal enfeitava a cabeceira de sua cama. Mulher misteriosa como o aroma invisível das dálias vermelhas e de sorriso ardente como dos gira-sóis. Maria é o nome da mãe de Beatriz e porque levara-me ao cinema é uma pergunta que não tem resposta menos mágica que a luz projetando as aventuras de Aladim numa Arábia ainda Persa. Era o tempo da infância, então tudo é memória. Antes da contra reforma da contra reforma protestante, universal por moda e definição, os cinemas mais tradicionais cobriam a mega tela com uma cortina luxuosa que, hoje sei, foi meu elo de ligação com o teatro. No instante em que as luzes se apagaram o ar ficou preenchido por gritos, risos e aplausos numa catarse coletiva entusiasmada, ansiosa e encantada. Do filme a única cena que posso descrever com precisão preto e branca é o momento em que Aladim, reduzido ao tamanho de uma formiga, está preso numa caverna cheia de perigos vigiada por um gênio da mal gigante, numa fração de segundos o Gênio da Lâmpada o traz de volta mas, agigantado. Tudo nele é enorme, inclusive uma pulga de traz da orelha que ardilosamente usa como arma jogando sobre seus inimigos, o monstro dispersa os vigias causando pânico e Aladim está livre. A magia está nos olhos de quem vê, e quando qualquer cortina ou pálpebra se abre o espetáculo continua no proscênio.

http://depoiseuconta.blogspot.com.br/2012/10/teatro-magico.html

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 27/10/2012
Código do texto: T3955192
Classificação de conteúdo: seguro