Homem dos Sonhos.

Tardes com Sol levemente colado na Terra, fervendo as correntes sanguíneas, formando miragens, enganando o cérebro, o coração e todas essas bobagens de gente que se apaixona. Se bem que todo esse clima quente fica bem mais que óbvio quando se sabe que é de uma cidade do interior (e põe interior nisso) de Alagoas. Enfim, não devemos nos prender tanto a isso de temperatura. Afinal de contas, é de uma paixão repentina que se fala e nada mais faz sentido quando se fala disso. Encontrou sua milésima paixão da semana, decerto que exagero, mas moça que se apaixona (e se faz apaixonante) fácil não é tão difícil de encontrar; o viu de longe, ficou observando cada gesto ao mesmo tempo que sentia o chão se esvaindo e, com ele, todos seus verbos, pronomes, adjetivos, advérbios e qualquer outro termo de comunicação. Emudeceu de vez. Nesses momentos o silêncio se basta, se encarrega completamente de se comunicar. Teve medo, temeu por ser insuficiente, pela estética e tudo o que foi dito, foi sendo descartado. Mas, num momento, acamou-se, percebeu que ele a olhava, como se tentasse decorar cada forma, cada gesto, qualquer movimento que fosse. Sim, depois de tantas frustrações, parecia que realmente ia para frente, parecia que era recíproco. Por que somente parecia? Porque, como se num passe de mágica, todo aquele cenário fosse se destruindo e a voz, tão esperada voz, do garoto que ia lhe completar e pegar seu coração de bandeja, ficou igual a de sua mãe. A moça confundiu-se toda, mas logo o rosto do garoto foi ficando igual ao de sua mãe também. Ora, poxa vida! Quando recuperou sua total consciência, viu que sua mãe estava há tempos tentando acordá-la para que ela voltasse a estudar (e deixasse de colocar a culpa no calor e assumir a preguiça que tinha). E ficou por isso mesmo, o homem dos sonhos vai continuar sendo apenas dos sonhos, por muito e muito tempo.

Aninha Torres
Enviado por Aninha Torres em 29/10/2012
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