ALMOÇO DE DOMINGO

Sou de uma família numerosa. Meus pais, ainda vivos e treze filhos. Doze casados e cada qual trazendo a tiracolo, a esposa (o), filhos e netos, alguns já com bisnetos. Meus pais, já velhinhos com a saúde fragilizada, porém ambos com o juízo perfeito e um amor incondicional pela família, que os fazem manter o tão abençoado costume do tradicional almoço de domingo.

Reunimo-nos a cada semana, revezando entre a casa de meus pais e dos irmãos que ainda moram na mesma cidade. Às vezes, em ocasiões especiais como os feriados prolongados, temos a alegria de reunir todos os irmãos, e esses encontros é uma verdadeira festa. É tanta gente que não dá para sentar com cada um para saber as novidades.

Mas o único objetivo desses encontros, segundo meus pais, é uma desculpa de estarmos unidos pelo amor deles e cultivar o amor entre nós filhos. As filhas ajudam na cozinha e sempre há alguma novidade, um prato diferente para exibir nossos dons culinários, que são sempre aprovados e aplaudidos. Vez ou outra nós fazemos um almoço “carregado”, cada uma das filhas faz um prato em sua casa e leva para juntar ao arroz e feijão na casa da mamãe. Não raro precisamos de algum ingrediente para uma invenção de última hora, “Ah, mas não tem molho de tomates,” lembra uma das cozinheiras, o que é prontamente acudido por outra, “Eu tenho em casa, vou buscar”.

Outras vezes aconteceu de algum dos filhos de longe, decidir repentinamente, vir para nossa cidade, e aquela lasanha “começada” entra numa sacola térmica e vem reunir-se ao nosso almoço de domingo em Lagamar. E assim passamos uma divertida manhã de domingo, preparando o delicioso almoço, conversando e rindo muito. Fico a contemplar esses encontros e afirmo que o melhor disso tudo é o tempero das conversas, uma boa prosa que se estende desde cedo até as despedidas.

Sempre antes de iniciarmos a comilança, meus pais pedem para darmos as mãos e rezarmos a oração do Pai Nosso. Essas orações vêem acrescidas de algumas recomendações de minha mãe, que mesmo debilitada, nunca perde o posto indelegável de matriarca. Aproveitando esse momento, ela com toda sua sabedoria e experiência, deixa seus recadinhos: “Meus filhos, nunca deixe de se reunirem. A união de vocês é que vai preservar a unidade de nossa família, e mesmo se algum dia nós não pudermos estar presentes, queremos que vocês se reúnam. Nós temos muito pouca força, mas nossa força vem de Deus. Tenham fé, pois não somos nada sem Deus”. Reafirma sempre ela: “Com Deus, nós somos alguma coisa e sem Deus, nós não somos nada”.

É tradicional, sempre encontramos um motivo por mais singelo que seja para nos reunirmos. Na verdade, nós não precisamos de motivos. Além do mais, domingo é um dia especial. O dia é especial, o almoço é especial, a macarronada vira prato de festa e assim nosso domingo é uma alegria só. E nós nos amamos demais para ter que encontrar algum motivo. Nós somos um bom motivo! Um motivo bem grande, cheio de gritos de crianças, risadas sem censuras, livres e soltas, causos e recordações dos tempos de criança e muito, muito amor...

Ah os almoços de domingo! Que saudade já tenho se acaso algum dia, eles não mais acontecerem na minha família...