DAQUI NÃO SAIO, DAQUI NINGUÉM ME TIRA

Na carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, ele dizia que na terra brasilis "em se plantando, tudo dá". Mesmo sem plantar, por muito tempo a Terra Papagalli deu à metrópole européia grande parte da fortuna com que a natureza a presenteou. Deu o pau-brasil, a borracha, o ouro. A exploração pura e simples, dos primórdios, acabou esgotando as reservas naturais e em nada contribuiu para a colonização que, na época, não interessava a Portugal. Foram as frequentes invasões de outros povos que obrigaram Portugal a iniciar a colonização, sob pena de perder as novas terras. O ciclo da cana-de-açúcar rendeu muito dinheiro que ia direto aos cofres da Metrópole, sem investimentos na Colônia. O sistema de monocultura para exportação exigia grandes extensões de terra e foi aí que a Mata Atlântica praticamente desapareceu. Foi-se a floresta e esgotou-se o solo. Passada a euforia e já perdendo o mercado para outros países, uma nova monocultura surgia no Brasil. Era o café impulsionado pelo braço imigrante, uma vez que a escravidão não interessava aos novos tempos que surgiam. Os cafeícultores adquiriram um poderio enorme e contribuiram para a abolição da escravatura e, mais tarde, para a independência política do Brasil. Política, sim, porque economicamente o Brasil passou do domínio português para o domínio inglês, uma vez que a própria Inglaterra, interessada em estender seus tentáculos na América, emprestou o dinheiro que o novo País pagou a Portugal para sua independência. Iniciava aí nossa dívida externa... Entre as duas Grandes Guerras, os EUA emergiram como potência mundial e o Brasil, mais uma vez, mudou de patrão. Dessa vez o dominador era vizinho, quase de porta, pois fazia parte do mesmo Continente. Muitos anos se passaram, a dívida externa aumentando, o governo militar fazendo acordos e abrindo cada vez mais o caminho para a exploração norte-americana. As multinacionais predominavam e dominavam o mercado, o dinheiro desvalorizava, a inflação chegou a níveis insuportáveis. A impressão que se tinha era que o Brasil estava sendo entregue de bandeja ao poder estrangeiro.

Não sei se o País acostumou a ser subserviente pois, embora hoje os tentáculos estrangeiros estejam afrouxados, surgiu uma elite nacional que se beneficia de regalias por eles mesmos sancionadas na forma de leis e, feito carrapatos, se grudam a cargos públicos como se eles, os cargos, fossem vitalícios e até hereditários. De tal forma se petrificaram no poder que a gente fica a se perguntar: afinal, isso é uma República Democrática ou uma Monarquia Absolutista? Eu fico a imaginar que no chuveiro, com certeza, eles cantam a plenos pulmões aquela velha marchinha de carnaval: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira..."

Giustina
Enviado por Giustina em 05/11/2012
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