Superações numa tarde qualquer

Eduardo era um cara estranho. Desde pequeno nunca foi tão social quanto seu irmão Ronaldo, era quieto, na dele, todos diziam que ele teria problemas quando adulto e o irmão seria bem sucedido na vida, a aposta da família era que Eduardo logo entraria nas drogas e morreria logo, que desgosto! – Quando pensava a pobre mãe no futuro do filho caçula.

E a vida seguia no mesmo rumo, Ronaldo cheio de amigos e convites pra baladas, muitas mulheres, uma vida realmente agitada e o sorriso estampado no rosto igual bandeira de corinthiano em Copa Libertadores, já Eduardo sempre na dele, da casa pro colégio, apegado ao seu computador, ao seus discos de rock, sem amigos, alguns diziam que era depressivo, outros mais religiosos preferiam arriscar que era possuído por algum espírito maligno, tanto que certa feita sua mãe o levou numa noite de cura e libertação numa dessas igrejas que vendem milagres prontos na TV, pouco adiantou, pobre rapaz voltou para casa pior do que havia saído e a mãe mais uma vez se decepcionou quando o Pastor (é aquele representante direto de Deus aqui na terra) avisou que não seria possível uma vez que a Entidade que possuía seu filho era muito forte, e lá foi a genitora percorrer igrejas católicas, evangélicas, centros de macumba, gnósticos, ateus e nada do rapaz mudar seu jeito “torto” de ser. A cada dia ficava pior a introspecção enquanto seu irmão era um cara super social e arriscava os primeiros passos para uma grande carreira na vida: acabara de passar no vestibular de ciências contábeis, tão grande era a vibração e empolgação que todos da família apostavam que seria um dos melhores auditores da receita federal, ganhando muito dinheiro e como sempre foi bem quisto nos lugares por onde passava seria fácil obter promoções dos chefes e a simpatia dos contribuintes e Eduardo ainda no segundo grau, cursando pelo 4º ano consecutivo o 2º ano do Ensino Médio, era uma vergonha a todos, seu jeito torpe e alienado que não transmitia boas expectativas de futuro foi ficando cada vez mais a mercê da própria sorte dentro de casa.

Um belo dia Eduardo estava voltando pra casa junto com sua solidão e muito desastrado tropeçou em Mônica, uma garota linda, que deixou ele sem fôlego e sem palavras (mais do que o seu habitual), acredita – se que foi amor a primeira vista, ela era mais velha que ele e já estava na faculdade e era poliglota, e o pobre Eduardo ainda tentando falar o português, mais algo havia mudado dentro dele, uma vontade de estudar, crescer, ser alguém na vida, mostrar que todos estavam errados nos julgamentos e foi o que ele fez, conseguiu com a ajuda de Mônica vencer todos os desafios (afinal ele era disléxico e precisava de tratamento diferenciado para poder se relacionar e aprender, mais como todo mundo preferia comparar ele ao irmão e acreditar que tudo que acontece de ruim é obra de Satanás ele foi ficando taxado como perdedor), hoje são casados, tem um casal de filhos, viajam todos os anos pelo Brasil, ele é o Presidente de uma grande empresa e ela médica bem sucedida, já Ronaldo que era a aposta da família tem um emprego chato, ganha mal, casou – se com uma ex – prostituta viciada em Crack e tem seis filhos pra criar, e vive de mau humor. Enfim Eduardo superou todas as expectativas ruins que criaram sobre ele, conseguiu superar quando encontrou alguém que percebeu que ele era mais do que aparentava, alguém que o amou do jeito que era e conseguiu extrair dele o melhor, encontrou a mulher que o completou, encontrou alguém para amar.

Moreira Neto
Enviado por Moreira Neto em 06/11/2012
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