QUARTO DE COSTURA

(Para D. Emília Rico Francisco, com gratidão, carinho e saudade)

Era um festival de cores. Fitas, rendas, retroses, elásticos, botões de todos os modelos, lindos tecidos. Coisas de fazer inveja aos mais elegantes estilistas de moda. Para mim, que sempre gostei de armarinhos, estar ali era um presente.

Quantas lembranças boas tenho daquele lugar. D. Emília, vizinha que morava ao lado do nosso “Casarão”, era uma costureira com alma de psicóloga. Quando eu ia lá para experimentar um vestido, ficava horas e horas. Inúmeras vezes, fui para casa de madrugada, só conversando, conversando...

D. Emília tinha mãos mágicas para a costura. Cada roupa que fazia ficava perfeita. Havia muitos figurinos para se olhar, mas, no final, ela sempre dava sua opinião. Juntas, criávamos um novo modelo, mais apropriado para o meu tipo físico. Eu era magrinha e tudo me caía bem.

E o café com bolo na varanda de cima? Até hoje me recordo de tudo o que D. Emília colocava na mesa: desde café, leite, chá, chocolate, até bolo de fubá, bolinhos de chuva, pudins, bananas  e outras coisas gostosas. Lembro-me de que eu não gostava muito de bananas, mas as da casa da D. Emília pareciam ter um sabor único.

Tudo era arrumado com tanto capricho naquela mesa imensa que mais parecia casa de fazenda. A varanda inteira era envidraçada e, enquanto comíamos e conversávamos, dava para ver tudo à nossa volta.

Saudade de um tempo de muita leveza, onde D. Emília foi protagonista.