O PAÍS DOS ESPECTADORES

O Brasil é o país dos desfiles, os mais variados, os monumentais, os maiores do mundo, os mais longos, como exemplo o interminável desfile das centenárias filas de sertanejos carregando latas d’água barrenta nas suas cabeças...

Ultimamente começaram aprimorar-se os desfiles dos atos violentos contra a sociedade com direito a morte por arrastamento no asfalto (me perdoem, leitores); com o crescimento exponencial das filas das mães que choram os seus filhos baleados e mortos por balas perdidas ou não; aumenta o desfile das filas dos ônibus queimados com gente dentro ou não, aliás, já é visível o desfile das listas dos nomes das pessoas que foram queimadas vivas dentro dos meios de transporte...

Classifico esses desfiles como sendo os desfiles do horror, os que me causam espanto e dor, mas, hoje comecei a contabilizar outros desfiles os que os classifico como sendo os que me causam náuseas e indignação; são os desfiles dos ilustres tratados por Vossas Excelências; Digníssimos, Meritíssimos, Doutores e até Imortais.

Sim, serão imortais certamente: imortalizados pela sua inércia ou inépcia para com aquilo que teriam que ter desenvolvido para a segurança e desenvolvimento da sociedade humana.

Hoje começou o desfile dos Ex Ministros da Justiça. Que lindo: já temos história. Eu nem havia me dado conta de quão grande é a lista dos Ex Ministros da Justiça, alguns com idade para entrar para a história e outros já entraram... Mas qual a história que nos contam? Qual o legado de suas existências além daqueles deixado nos cofres públicos pelo esforço de pagarem pontualmente suas crescentes necessidades de salários e benefícios? Certamente deve haver alguma coisa que lhes tenha valido a pena viver ou justificar as suas existências à Sociedade que lhes permitiu não faltar o pão nas suas mesas.

Coisa inédita nessa modalidade de desfile é o fato de um deles me pedir para confiar na Justiça.

- Ex Ministro, Vossa ( ex ) Excelência, não vê que a Justiça é cega? Desde criancinha tenho ouvido repetidas vezes que a Justiça é cega e agora com o passar dos anos ela está, além de completamente cega, caduca, irremediavelmente caduca, obsoleta, ficou nas academias no século passado enquanto os bandidos andam de jatinho e usam telefone celular. E você me pede para confiar nela? Não dá. Tenha a santa paciência, mas, não dá. O Senhor foi o terceiro ou quarto do desfile de hoje e tudo o que pude ver com clareza é que vocês não perderam o hábito de ficar se exercitando para frente e para trás os seus tão importantes conceitos mentais e teorias fundamentadas em Leis que não têm mais sentido. Ah, claro. Um dentre vós já pensa o contrário... Sim, sim. É preciso alimentar o refluxo do movimento para que ele não perca a sua característica movimento de vai-e-vem: para frente, para trás, para frente, para trás... E a Sociedade que se dane.

O que lhes falta para que abram os olhos? É tão importante assim morrer tão inutilmente por causa de um velho hábito repetitivo?

Acordem, a nossa Democracia adoeceu, as nossas Leis não nos servem mais, até bandido elege Deputado e Senador! Precisamos por um limite à escalada de homens desqualificados para a promoção do crescimento da Sociedade se tornem nossos representantes legais porque manobraram massas de votos.

Ah, o desfile dos Deputados e Senadores já é tão antigo que nem me dei conta de cita-lo; o jogo do faz-de-conta que é do interesse da sociedade que eles se ocupam... Pelo menos uma grande parte deles, se não, os desfiles das filas de descasos públicos com hospitais, escolas, segurança pública e por aí afora não seriam tão grandes nem tão disseminados pelo país em todos os seus quadrantes. Viram: é o fruto do trabalho deles. O que mais falta para abrirmos os olhos e descobrimos onde está a doença do Brasil?

Se ainda houver homens com a estatura de homens distribuídos pelos nossos Três Poderes, em número suficiente para que possam fazer com que o nosso Sistema Democrático se volte para a Sociedade que os elegeu, podemos ter esperança, se não, até a nossa história recente será a história dos homens imbecis que se preocuparam com placas comemorativas e fotografias em saguões de palácios, fazendo discursos sobre os nossos heróis do passado e usando vestimentas de gala ornadas com galões e jóias parecendo um dos mais tradicionais desfiles populares do Brasil.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 02/03/2007
Código do texto: T398288
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