Ciranda Marginal

“Ta lá” a mulher, suja de graxa, com as mãos machucadas e corpo cansado. Seus olhos inchados de sono, por não dorme a 12 horas consecutivas nas quais esteve trabalhando em uma metalúrgica no subúrbio da cidade, contudo há um lume naquele olhar que não pode ser apagado pelo cansaço.

“Ta lá” a mulher, cansada e suja de graxa, sentada esperando seu ônibus que está atrasado, como sempre está, ela sabe que quando chegar estará abarrotado de pessoas, as quais provavelmente estarão na mesma situação que ela.

“Ta lá” a mulher, cansada, suja de graxa, sentada nos degraus da loja fechada, abraçada com seus dois filhos, esperando o ônibus chegar, a mulher se alegra em saber que esta noite seus filhos terão o que comer; que esta noite estará com eles. É cansada, descrente da vida, mas é feliz, pois tem dois filhos, mesmo não tendo marido, tem dois filhos, que a abraçam enquanto esperam o ônibus, o transporte desumano dos homens.

“Ta lá” dois delinquentes, que acabaram de roubar um carro. A polícia atrás deles dispara como se só eles estivessem na rua, acertam o motorista do carro, este capota em direção ao ponto de ônibus, por pouco não o acerta, fica sobre as escadas, nas quais a mãe estava com seus filhos.

“Ta lá” a mãe jogada no chão, sem vida, seus dois filhos a olham e não conseguem mais ver o brilho nos seus olhos que estão mortos; olham para o céu a procura de Deus, não o vêm; olham novamente para a mãe a espera de um milagre, não acontece; olham para o carro e enxergam dois homens mortos. Olham para a rua e vêm a polícia, com uma arma na mão, a mesma que causou a morte de sua mãe, sua protetora.

“Ta lá” dois jovens desolados, sozinhos no mundo, agora só pensam em vingar sua mãe. “Ta lá” dois anjos inocentes, que um dia, provavelmente serão dois delinquentes, tentaram vingar sua mãe, provavelmente capotarão o carro, e matarão outra.