Vida de Caranguejo
 
          Da lama ao prato. Assim, na ótica do catador, resume-se a vida do caranguejo. Madrugada, quase manhãzinha e lá se foi o homem em busca do alimento. Insólito. Espreitou e aguardou por mais um dia de sucesso. A caçada não pareceu muito fácil. Mas o homem insistiu, buscou, cansou e trouxe a sua refeição. Patas em formatos de pinça. Maravilhosos crustáceos de olhares antenados e de carapaças duras, sinalizaram e embrenharam-se em suas passagens subterrâneas e sombrias. Verdadeiros abrigos contra os predadores naturais. Confiante e com os braços enterrados na lama, o catador pegou mais um caranguejo, dos poucos que ainda restam.

         No mangue, a vida acontece. A vegetação mistura-se com o sal; o sal da água mistura-se com a água da maré. As raízes são verdadeiros respiradouros que absorvem o ar puro da natureza. As sementes flutuam na água e garantem a reprodução da vegetação. Os manguezais estendem-se do norte ao sul do país. Tudo numa paisagem paradisíaca e de uma beleza espetacular. Desenhado no litoral brasileiro, é o principal local de parada de muitas aves, peixes e de outros animais marinhos que dependem dele para sobreviverem.

         Poluição e especulação imobiliária são as principais causas de destruição e do desaparecimento de muitos manguezais no Brasil. Cada vez mais, áreas são utilizadas para a construção de condomínios; hotéis e até mesmo de vias públicas. Diante de tantos impactos ambientais, morreram os caranguejos e a vida do homem escapa por um fio. Da lama do mangue, o homem sobrevive - por vezes destrói - e dele retira o sustento.

         Palafitas flutuam às margens das águas, onde o catador de caranguejos repousa em paz.


 
(Imagem: acervo do autor - pesquisa no mangue)