Desculpa mala

Quando queremos adjetivar um chato, impertinente, normalmente chamamos de mala; se queremos elevar ao superlativo as “qualidades”, mala sem alça. Claro que a ideia é associar a dificuldade que seria transportar a coisa, à dificuldade de conviver com o chatonildo em questão.

Mas, pensando melhor, acho que a mala tem sido injustiçada. Lembro uma amiga com a qual viajei para a Nova Zelândia, que numa vez anterior teve um transtorno enorme, pois a companhia aérea enviou sua mala para Roma ao invés de Auckland. Teve várias privações, comprou o que não precisava, tudo porque foi separada de sua mala.

Ela mesmo com seu inconveniente eventual, é de extrema utilidade.

Todavia, os malas, só servem para encher o nosso saco. Imagine um comentarista mala, que seu texto diz que Curitiba é a capital do Paraná, e ele responde todo zeloso que você não conhece Belo Horizonte? Aí você explica que não se referia àquela cidade, e o mala segue insistindo que ela existe? A mala não faz isso; se você colocar cuecas e camisas dentro dela, será isso que vai encontrar, ela é honesta; portanto, superior ao mala, que se revela mentecapto, ou desonesto intelectual. Nos dois casos, mala sem alças, cheia de pedras de ignorância.

O mala eletrônico, aliás, é precisamente isso que significa, email, que todo dia envia os links dos seus blogs, mesmo você nunca tendo mostrado o menor interesse.

O que manda saudações “espirituais” genéricas, iguais para todos e sem nenhum conteúdo, superficiais, isso todo o dia. É abrir a mala, digo, o email, e lá está o mala.

Tenho dois endereços de email, um, pouco uso; às vezes, penso vacilante, abro, não abro? Aí lembro, tenho que ir lá excluir o mala A e o B, eles não falham. A mala não faz isso. Quando você abre-a, chegando de viagem, não tem nela nada que você não queira; é de utilidade tal, que, quando em trânsito, traz os “móveis” de sua casa.

Briguei muito comigo mesmo, pois, por princípio, não bloqueio ninguém; mas, fui mais fraco que eu mesmo como diz a frase do idiota: “Fiquei frustrado quando briguei comigo mesmo. Mandei eu ir ver se eu estava na esquina, e quando cheguei lá, eu estava mesmo!” ( Pedro Prado )

Depois de sofrer bastante com algumas malas no aeroporto das letras, tive que rever conceitos e livrar-me de excessos de bagagem; e aí, minha consciência pesou lembrando a injustiça que tenho cometido com a pobrezinha da mala. Repensei, me arrependi, pedi desculpas, e o faço agora em público; acho até, que passei a amá-la...