Oi, sumido!

Dizer que alguém está “sumido” é, para mim, uma forma muito deselegante de manifestar a saudade ou a amizade. Ou então cumprimentar com aquele efusivo “quanto tempo!”, quase com uma cara de espanto por encontrar a pessoa.

É claro que o sentimento pode ser bom, caloroso, de demonstrar que se sentiu falta de alguém querido. Mas que soa mal, soa sim...

Imagina se você tira uns dias de licença do trabalho e quando volta, seu chefe diz: “oi, sumido!”. Sem dúvida nenhuma é mau sinal. Talvez ele até já esteja se referindo ao seu sumiço (definitivo) que acontecerá logo em seguida...

Entre familiares, amigos, colegas, é muito comum soltar logo a exclamativa equivocada “como você está sumido!”. Equivocada porque se a pessoa está bem diante de quem exclamou, ela não “está” mais, pode ser que “estava”.

Não sei se sou só eu que penso assim, mas num grupo em que existem responsabilidades compartilhadas ou funções atribuídas previamente, alguém dizer “ô sumido”, significa um bom chega-prá-lá. Neste caso, sumido só pode ser o mesmo que “não participativo, ausente, descomprometido”.

Talvez eu que esteja sendo persecutório, mas acho muito desagradável em qualquer situação alguém me dizer “sumido!”. É incômodo. Existem formas mais brandas de se cobrar e termos mais cordiais para expressar que se sentiu falta de alguém. Por exemplo: “olá, que bom te ver!”, “que bom que você veio!”, “que bom que você pôde vir, estávamos sentindo a sua falta”.

Pode ser que a pessoa não seja assim branda exatamente porque não sentiu a falta da pessoa, mas sim da tarefa que ela não cumpriu. Ou então ela está sim sendo branda, porque na verdade, a vontade seria de matar o sujeito, quase sumido definitivamente.

Talvez seja só eu que repare nas minúcias das palavras, além da entonação delas, e aí fique deduzindo (correta ou injustamente) o que mais haveria por trás dos termos, tanto em intenções como em insinuações.

Afinal, o sumiço pode ter sido proposital e essas reações tão típicas não seriam perturbadoras a quem já as pressupõe.

(Catalão, 25/10/2012)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 17/11/2012
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