A visita da morte

Ao ser informado que uma pessoa amiga faleceu, enquanto me preparava par ir ao velório assomaram algumas reflexões.

Desde que recebi a notícia minha alma turbou-se, como já estivesse no ambiente fúnebre. Um rebuscar de palavras e situações onde seria melhor o silêncio; mesmo o que dizer, caso chamado a falar em tão solene ambiente.

Isso tudo no espaço de minutos, dada a gravidade da morte e o temor de acentuar inda que minimamente, a dor de quem a encara.

Admirável oradora é a morte! A gente gasta todo nosso tempo e latim, e nem sempre consegue a atenção de quem deseja; ela diz apenas: Eis-me aqui! E todos nós atentamos, passamos em revista nossas vidas e consideramos seriamente as demandas de vidas alheias.

Deve encerrar certas reflexões a frase que “É na tempestade que se pensa no abrigo”. Nada mais tempestuoso nos domínios da alma que essa visitante inesperada, a morte.

Quando alguém a encontra inda jovem, ou infante, a dor é deveras intensa; mas, se parte um ancião, como agora, a resignação soa mais fácil; pois, não tributamos às fatalidades, mas constatamos que Deus está colhendo Seu trigo maduro.

Aquele que tem uma relação de paz com Deus, não a teme nem um pouco. Contam de um Pastor irlandês, íntegro, e mui amado pela sua igreja que estava convalescente; todos o cercaram de cuidados e garantiram-lhe que estavam orando por sua cura. Ele agradeceu e disse que continuassem a fazê-lo. “Se Ele me curar, ( disse ) vereis a glória de Deus; senão, eu verei.” Admirável confiança que não se pode obter em lugar algum, a não ser na Palavra de Deus. Em horas assim, o ateísmo tão chique para discursos por aí, soa completamente inútil, vazio.

Ah se superássemos nossas futilidades e suscetibilidades e considerássemos as necessidades alheias, full time, como fazemos na hora da morte! Quantos dizem tolices tipo, não vivo sem celular, sem Facebook, sem Internet, e outras coisas semelhantes. Coisas e hábitos parecem mais importantes que pessoas, até que a morte resolve chamar atenção para o valor da vida.

O maior de todos os sábios, Salomão, nos deixou o seguinte: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.” Ecl 7; 3 e 4

Claro que quando fala “melhor” não tem em mira o prazer, mas o proveito para o crescimento psicológico que se pode auferir nessas situações.

Quando alguém nos aconselha que vivamos a cada dia como se fosse o último, quer despertar-nos para que vivamos com toda intensidade; isso nunca me incomodou; mas, de repente se me revelou egoísmo... Como seria se convivêssemos como se cada dia fosse o último de nosso semelhante?

Na verdade a morte está banalizada pela ampla e contínua divulgação de sua incidência. Como disse alguém: “Uma morte é uma tragédia; milhares de mortes, apenas uma estatística.”

Nessas horas, desgraçadamente tendem a falar mais, os que têm menos a dizer; pois, em horas de calmaria, não se deram a meditar o suficiente para entender o sentido da vida que purgaria seus medos. Agora, aguilhoados por esses não conseguem disfarçá-los.

Os que vivem sabiamente segundo Deus, na calmaria da vida, não adernam seus barcos na procela da morte, como bem disse J. Kennedy: “A gente conserta o telhado quando o sol está brilhando”.

“Acreditamos ficar tristes pela morte de uma pessoa, quando na verdade é apenas a morte que nos impressiona.”

Gabriel Meilhan