Drogas matam, Cristo liberta!
 
   Sentado, bem quieto e cabisbaixo. Lá estava o menino: bem magrinho; de pele morena; e na cabeça, um boné com a pala voltada para trás. Inicialmente, não conseguia buscar a sua aproximação. Enquanto isso, a cena me chocava profundamente. Um nó na garganta e uma emoção muito grande invadiu o peito e a mente. O choro foi contido em milésimos de segundos e permaneci perplexo. Estava em mais uma reunião do voluntariado. Visitava uma comunidade terapêutica para dependentes químicos, afastada da vida urbana.
 

   Ao redor, formando um círculo de pessoas, percebi que outros rapazes de pouca idade, também participavam da sessão. Bem atento às apresentações, chegou a sua vez. Chamava-se Felipe e possuía treze anos. Um ano mais novo que o meu filho Pedro, de quatorze anos, que estuda e tem uma vida feliz e agradável; tudo no aconchego do lar.
 

   Infelizmente, repetia-se mais uma história cruel e de desafeto familiar.  Sem pai e mãe, ele havia sido apreendido no lixão da cidade. Um território sem lei, onde a violência e todo o tipo de dependência química podia ser visto: da maconha; crack; cocaína; álcool; pasta-base de cocaína; e de muitas outras combinações de drogas. Felipe era usuário de pasta-base, bem como a maioria dos dependentes da comunidade terapêutica.
 

    Após a apresentação, foi proferida uma palestra que enfocava os malefícios de cada tipo de droga. Buscou-se deixar bem claro, para todos os participantes, que a dependência química pode destruir os lares e as famílias. Sendo, a falta de amor à própria vida, uma marca registrada de quem é usuário químico.
 

   Na abstinência, o usuário é capaz de fazer qualquer coisa para a obtenção da droga: prostituição (não importa o sexo e a idade); furtos dos bens da família (celulares, joias, máquinas de lavar, micro-ondas); e inclusão no mundo do tráfico.  Além disso, retira o sossego dos pais e parentes, onde vive.  
 

   O grande propósito e o desafio dos internos era o de poder colocar todo o mal e aflições nas mãos do Senhor. Assim, a fé em Cristo e o poder de Deus libertou muita gente daquele lugar.
 

    Entre uma oportunidade e outra, sempre visitava a comunidade. A imagem do menino sentado, ainda está na lembrança. Não pude encontrá-lo novamente. Felipe permaneceu na fazendinha por apenas cinco dias, pois havia escapado mais uma vez.
 

   Na entrada da chácara havia uma placa com as inscrições pintadas a mão:
 
"Drogas matam, Cristo liberta!"
 

(Imagem: Diário do Vale)