Bandolins de guerra e outras batalhas inúteis

Quando fevereiro chegar, pretendo levar o grupo de música regional “Choro Prateado”, de Cabedelo, para o lançamento dos novos livros de Fábio Mozart no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em Itabaiana. O grupo é liderado pelo Wilson do Bandolim, 83 anos de música, ele que foi parceiro do grande bandolinista itabaianense Artur Fumaça nas décadas de 40/50.

Ontem, no programa “Alô comunidade”, recebemos o filho de Wilson do Bandolim, meu compadre e colega ferroviário Wellington Costa. Nosso país foi ocupado pelas armas do nosso próprio Exército, pela cultura alienígena e por outros instrumentros menos palpáveis, e o que resta é a resistência de artistas do nível de Wilson do Bandolim, movendo-se indiferente aos modismos e a infâmia cultural de nossos dias.

Toda quinta-feira, em Cabedelo, os velhos músicos se reúnem para tocar e celebrar o bom tom do chorinho brasileiro e correlatos, ainda que tangidos pelo avanço da Frente pelo Aniquilamento do Bom Gosto e da Verdadeira Arte, ante a qual parece vã toda resistência. Não é iminente, porém a rendição de guerreiros como Wilson do Bandolim e seus parceiros. Não iremos renegar a bandeira contra a falta de autenticidade. Chamam-nos de puristas dos costumes por reivindicarmos uma expressão artística de raiz brasileira. Prefiro acreditar que a verdadeira arte é imune a todo esse lixo que querem nos impor.

Ofertamos CDs do bandolinista Wilson para nossos ouvintes. Só um rapaz ligou pedindo o disco de chorinho. Acredito que, se a cortesia fosse um disco de Calcinha Preta, Calcinha Fedida, Garota Arrombada ou qualquer fuleiragem do tipo, certamente a demanda seria muito maior. Tem nada não. A História, ela mesma, se encarrega de corrigir seus equívocos e restaurar o belo que as restrições do mercado embaraçam.

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A Associação dos Novos Escritores da Puaraíba (ANEP) foi criada em grande estilo na Câmara Municipal de Itabaiana. Fui escolhido como segundo secretário. Tem até Diretor de Marketing, que é o cozinheiro Luciano Marinho, o primeiro cozinheiro profissional diretor de uma associação de escritores. É que ele escreve nas suas panelas poemas diários de sabor fantasia.

Não será por falta de poetas que a nova entidade vai fraquejar. A iniciativa de Antonio Costta insinua questões como: quem é escritor velho poderá se associar? E quem é apenas leitor? E o que vem a ser mesmo um escritor, veterano ou novato?

Não temos ainda a definição do que seja mesmo um escritor. Partindo do princípio de que o eletricista é aquele que se dedica ao ofício de mexer com eletricidade, o escritor é o cara que escreve, mesmo sem viver disso. Quando eu era menino, só acreditava que o sujeito era realmente escritor se ele fosse autor de livros de capa dura. Autor de capa mole, na minha visão de garoto, seria um escritor sem muita consistência. Isso até eu descobrir os livros de Monteiro Lobato e começar a gostar de ler os bons autores, independente dos formatos dos seus livros.

Só acho que os novos escritores devem ter a vocação, gostar de ler e, de vez em quando, escrever. Para publicar, acabou o problema com o advento da internet. Cada um cria seu blog e dana-se a escrever, bobagens ou não. Na grande rede, tem um oceano de blogs literários. Nessas águas turvas, pode-se pescar boa produção, mas a grande maioria é lixo.

Eu mesmo ando com vontade de declarar oficialmente morto esse meu blog, encerrando minha carreira de escritor. Vou fundar a Associação dos Ex-escritores de Saco Cheio. Talvez eu venha a fundar um grupo de ajuda mútua para quem gosta de escrever besteiras, mas não quer incomodar os outros com suas fuleiragens. Uma coisa assim feito o Alcoólicos Anônimos. Na sessão, o sujeito se levanta e declara:

--- Hoje eu senti vontade de postar um texto no meu blog inativo, mas resisti.

Seguem-se aplausos dos companheiros de desdita.

www.fabiomozart.blogspot.com

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 02/12/2012
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