Ao sabor do vento

"Please baby can't you see

My mind's a burnin' hell

I got razors a rippin' and tearin' and strippin'

My heart apart as well"

[Melissa Etheridge- I'm The Only One]

Um dia daqueles em que tu acordas e pensas na vida que poderias estar correndo, no sabor de um momento, na ampulheta virada, no dia de ontem, no cálice que lhe queimava os lábios como um beijo não dado. Mas hoje é apenas um dia! Uma segunda-feira opulenta de caos e suor.

Bebo um senhor gole de água, o calor queima e tosta minha pele, dói, mas finjo com todas as letras que sou superior. O barulho alfineta todos os meus pensamentos, faz com que as letras briquem de se inverter diante de mim. O óculos atrapalha, reflete em suas lentes o brilho fosco de quem já perdeu a esperança.

No entanto, aqui estou eu, tentando segurar a mão invisível no ar, escrever para me salvar. Mas se ao meu apelo não existir resposta?

Sinto um soluço que frustrou-se ecoando no silêncio que há dentro de mim, sinto ainda que não sou especial. Sonhos talvez de um narcisista frutrado ou de um egocêntrico magoado. Desculpe, rótulos errados: sou egoísta!

E quando digo sou penso ter certeza da única coisa que pode me apegar ainda a mim mesmo, a vida, uma certeza de existir embora sem saber o real motivo, de levar apenas nãos e, ainda assim, tentar a todo custo uma verdade maior.

Sinto meu peito oprimido, vontade de chorar, mais as lágrimas que deveriam escorrer para lavar minha alma, são como vidros presos nos meus olhos, apenas cortam minhas córneas mais e mais e me impedem de ver, e eu puxo meu óculos da gaveta e os faço de máscara de minha realidade.

Tudo o que eu penso sobre mim podem ser farsas, mas ainda assim, eu não sei. As palavras descem como leite derramado e uma vez que forem ditas jamais serão esquecidas.

Poderão, talvez, serem abafadas pelo vento, mas ainda assim como a folha no alto da árvore, aquela que há três invernos permanece lá, entre viver e morrer, não se deixa levar pelo vento, mas no entando estou à deriva.

Eu ainda quero e preciso sonhar, mas com qual realidade? Com aquela em que a brincadeira filosófica do objeto-sujeito se perde em mim, e ainda assim eu abro um livro qualquer e vejo metafísica se tranformar em filosofia transcendental. Sensitivista e intelectualista...

Só espero por uma mão amiga...

Ev
Enviado por Ev em 05/03/2007
Código do texto: T401928