‘A mãe é sua...’

Era um dia normal na casa do meu primo Rafael. Éramos quase irmãos. Eu tinha 13; ele, 12. Sempre íamos ao mercado juntos comprar pão, leite, essas coisas. Um dia minha tia pediu algo diferente:

— Pepinos? – dissemos juntos.

— Sim, que que tem?

— Nada – disse eu, tentando esconder minha preconceituosa vergonha de ir comprar no mercado algo parecido com o que tenho no meio das pernas.

— Mas cuidado na hora de comprar... Quero pepinos grossos e compridos. O apertem para ver se não estão machucados ou estragados.

Fizemos um “sim” com a cabeça e fomos ao mercado.

Saindo, disse:

— Você apalpa o pepino...

— Eu não...

— Você, sim! A mãe é sua...

— Mas eu nem como pepino...

No mercado, desses pequenos que têm em qualquer bairro, fomos aos fundos. De repente, o mercado lotou. Só homens nos caixas e perto de nós. Olhamos um para o outro, eu disse:

— Pega logo!

— Pega você!

— Mas a mãe é sua...

— Mas eu não como pepino!

Ficamos 40 minutos ali. Esperando o mercado esvaziar. Como ladrões prestes a roubar um banco, pegamos a sacolinha plástica transparente e, rapidamente, pegamos quatro pepinos, sem se importar em apalpá-los nem nada assim. Chegamos tão rápido à fila que ganharíamos uma medalha.

Parecia que todos que nos olhavam no mercado lotado estavam na fila. Comecei a suar frio. Quando vi, meu primo já estava fora da fila, fora do mercado, na calçada, rindo de mim. Eu, sem perceber, estava com quatro pepinos grossos ensacados na mão.

— Boa tarde, só vai levar os pepinos?

Estava tão nervoso e envergonhado que meu olho esquerdo começou a piscar num tique que só foi sumir duas semanas depois.

— Só. Obrigado...

Peguei, e levei. Meu corpo esquentou novamente, meu coração bateu e nunca mais comprei pepinos para minha tia...