O segredo da cebola

Muitos ignoram que - para nós, homens - não há coisa melhor que a cebola. Saibam, pois, que este tubérculo - tão desprezado por causar um tremendo mau hálito - é um dos responsáveis pela consistência da seiva reprodutiva masculina. Se pensou em porra, é isso mesmo... e jorrá-la A B U N D A ( calma, eu ia dizer ABUNDANTEMENTE, em abundância ) é indício de virilidade e sempre foi motivo de orgulho pra nós; machos.

Devemos muito à milagrosa cebola. Permitam-me esculpir aqui um breve autorretrato no que tange à minha masculinidade; durante os meus anos casadoiros, minha ex-esposa, à mesa comigo no jantar, repreendia-me severamente quando presenciava a minha gula por cebola, tão inocente (a cebola) mas tão repelente.

- Comendo cebola, ainda mais crua? Hoje não vai ter... pode ir tirando o cavalinho da chuva. Assim dizia a pobre mulher, com as feições retorcidas. Mas eu a perdoava por isso.

Esta rude e inculta senhora não sabia que, nós homens, necessitamos tanto do selênio, ricamente encontrado na cebola. Ignorava que a metade desse mineral tão importante pra nós, está concentrado em nossos testículos e no duto seminal adjacente à próstata; e que, ao expelirmos o sêmen expelimos também o selênio - vai um atrás do outro. E precisamos repô-lo sem tardar... Além disso, é um poderoso antioxidante, combate a hipertensão e mantêm baixas as taxas de colesterol.

Mas vamos focar no selênio, nosso principal benfeitor. Devemos sucumbir ante esta ácida vilã, injustamente vilipendiada por seu sabor e hálito desagradáveis. Uma vez que é essencial pra nós. Enquanto para nós a cebola é mel, pra elas não é aconselhável, sobretudo se estiverem grávidas ou amamentando. Pois sabe-se que um sério efeito colateral pode ser causado ao feto ou ao bebê, uma vez que, transmitem através do leite materno, muitos desconfortos, sobretudo cólicas terríveis.

As vezes, mesmo a contragosto, a dita senhora, suportava, mesmo resignada, o cheiro - nojento e desagradável, dizia ela - da bendita cebola. Isso porque o desejo falava mais alto e se me quisesse tinha que tolerar. Mas ordenava, já despojada em nosso leito; “Vem, mas não me beije, por favor...” Isso quando eu não tinha que chupar (epa! - não deturpem) eu ia dizer chupar bala Halls (extraforte), para amenizar o hálito amargo dela... (digo, da cebola).

Oh Milagrosa e ao mesmo tempo maldita cebola! Por sua causa eu suportava tudo isso, mas, em contrapartida, jorrava o meu suprimento de selênio "in loco" com grande satisfação.

Oh! Machos, façam como eu; não desprezem a cebola. Miserável para elas, muito importante pra nós. Mastiguem e comam com prazer (ela e a cebola!), crua, nua, se preferir cozida. Mas crua é melhor, aproveita-se mais os nutrientes. Eu costumo comê-la ralada, misturada ao bife ou na omelete, pra disfarçar o gosto amargo - gostaram da dica ? E se acaso ela te mandar para trás - será que entenderão? - podem bafejar à vontade o hálito salutar no cangote dela. É que assim elas não sentirão tanto o cheiro da nossa amada cebola.

Então, já repuseram suas cotas de selênio hoje? E Viva a nossa Cebola!

("Crônicas" pág. 19 – 06 de maio de 1983)

Edir Araujo, poeta e escritor, autor dos romances psicológicos: "A Passagem dos Cometas" e "Boneca de Pano". Escreveu também "Risos e Lágrimas". Atualmente "Fulana" (este ainda inédito). E outros em andamento.

Edir Araujo
Enviado por Edir Araujo em 10/12/2012
Reeditado em 03/07/2019
Código do texto: T4029616
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