Se fosse só o olho dona.
Numa bela manhã de domingo ensolarada fui caminhar, enquanto olhava a paisagem pude observar uma feirinha que me chamou a atenção. Havia nas barracas muitos produtos naturais e artesanais, a que mais me atraiu foi à mineira com produtos da roça. Apesar de ser carioca, tenho uma quedinha pelos produtos mineiros, pois morei muitos anos por lá.
Caminhei até a barraca e o rapazinho que estava atendendo era um típico mineirinho, chapeuzinho de palha, cigarrinho no canto da boca, aparentava ter uns vinte oito anos, muito simpático e sorridente, bonito rapaz.
Falando mansinho me perguntou:
- O que a senhora deseja dona?
- Quero comprar um mel bem saboroso e de boa qualidade.
- Sim, temos muitos, é só escolher.
- Sabe moço é para o meu filho, ele fica resfriado com facilidade e o mel tem que ser saboroso para ele poder tomar.
- A senhora já tem filho? Tão nova e bonita.
Nesse meio tempo comecei a perceber que ele me olhava com um olhar malicioso fiz de conta que não entendi e continuei interessada no mel.
- Êta trem bão sô!
- O quê?!
- O mel da abelha jataí dona, esse trem é bom demais da conta é o melhor mel que tem pra resfriado e é muito gostosinho.
- Hum. Tem certeza, posso confiar?
- Uai dona... Num to falando.
Interessei-me e perguntei o preço.
- Pra senhora que é tão bonita vou fazer só vinte reais.
Irritada falei:
- Já cresceu o olho né?
Ele bem devagarzinho falou:
- Ainda se fosse só o olho Dona...
Escolhi, peguei e paguei, ao entregar as notas observei que ele continuava com o olhar e o sorriso maliciosos. Foi quando entendi o que ele havia dito, pasma e ruborizada virei as costas e sai dali rapidamente.
Vou confessar... Foi bom para o meu ego que já estava em baixa, aumentou minha autoestima a ponto de caminhar duas horas sem parar.
- Mas que mineirinho safadinho!
Ao chegar em casa, contei para o meu marido achando que ele ficaria indignado e ele ainda brigou comigo.
Respondeu:
- Também fala o que vem na cabeça. Fala o que quer, escuta o que não quer.
- Como assim?
Depois disso, fui para o meu quarto refletir.
- Será mesmo que eu ouvi o que não quis?
No dia seguinte levei meu carro ao mecânico amigo da família e aí, conversa vai conversa vem, lembrei-me que ele conhecia muito bem mel, ainda desconfiada com a cantada do mineirinho e querendo mais opinião principalmente masculina, contei o ocorrido e ele me respondeu calmamente:
- A abelha Jataí é pouco conhecida e produz pouco mel, seu mel é escasso e caríssimo. Enquanto cada colmeia produz cerca de 20 quilos por ano, a Jataí produz, quando muito, 1 quilo, ela é muito mansa e não se defende, no entanto, consegue produzir substâncias que impedem o desenvolvimento de fungos e bactérias. Por isso seu mel é tão cobiçado como medicamento, inclusive para resfriados, dessa forma, custaria em média dez vezes mais.
Deu uma pausa e continuou:
- Portanto, esse mineirinho ”te cantou”, “te encantou” e “te enganou”.
Indignada e ao mesmo tempo decepcionada, disse:
- Mineirinho safado, isso é para eu aprender a ficar mais esperta.