CINCO SENTIDOS...

Teu perfume denuncia tua presença. Muito antes da tua chegada. Onde quer que eu me encontre, paro, respiro fundo, fecho os olhos. Espero...
Embriagando-me, meu olfato, aos poucos, vai construindo sua imagem (idealizada) na minha imaginação. Não aspiro o ar, deixo que ele flua suave e teu doce cheiro invada meu corpo, tome conta de minha corrente sanguínea, faça bater mais forte meu coração...
Sei que estás bem próxima. Já posso ouvir tua voz evoluindo pelos corredores. Penetrando pelos meus ouvidos. Continuo com os olhos absurdamente fechados. Minha audição vai reconstruindo, virtualmente, passo a passo, tua caminhada até o lugar onde eu estou...
Chegas. Meus olhos não aceitam mais minhas ordens para ficarem fechados. Buscam desesperadamente materializar aquela imagem que minhas narinas e meus ouvidos já vinham construindo dentro de meu cérebro. A visão de tua presença é avassaladora...
Faz com que eu permaneça mudo, extasiado, estático, enquanto meu olhar, como se te despisse totalmente, vai percorrendo descaradamente teu corpo. Meu coração, que antes estava batendo acelerado, agora vê sua velocidade quase reduzida à zero. É um sufoco...
Estás tão próxima. E quando me afasto para dar lugar a tua passagem, (colado à parede), posso sentir o ardor emanado de teu corpo gracioso e o quase roçar de teus pelos na minha ouriçada pele. É um martírio tocar tuas mãos quando - (vou imaginando) - poder usar meu tato avaliando outras partes mais atraentes e salientes de teu corpo, egoisticamente feminino e belo, traria muito mais felicidade para meu ego...
Eu te cheiro. Eu te ouço. Eu te vejo. Eu te toco...
Infelizmente, não demoras. Tens que ir embora...
Foges sem nem ao menos imaginar todos os sonhos e desejos que se atropelaram em meus pensamentos enquanto estive perto de ti. Deixas comigo a última certeza deste encontro tão perturbador para meus instintos. A de que, por enquanto, meu paladar, será o único sentido que não terá uma chance de experimentar sequer uma pequena amostra de teus mais variados encantos. Vou ficar sem provar do sal que existe em tuas lágrimas. Sem sentir o prazer de degustar seu suor diluindo-se enquanto se esparrama sobre minha língua. Infelizmente nossos lábios hão de continuar distanciados. Por isso, o amargo da minha boca não vai se açucarar com a doçura de tua saliva...
Como se adivinhando meus pensamentos, ao chegares à porta, antes de sair, giras teu corpo na minha direção. Com teu olhar maroto de mulher bonita, com um sorriso malicioso desabrochando desaforadamente em teus lábios - como se fora um caçador armando uma armadilha para capturar sua presa; como se atirando uma valiosa moeda para um desesperado pedinte - com as pontas dos dedos, através do espaço, me presenteias com um solitário beijo...
Pobre de mim...
Jamais saberei qual o sabor que ele tem...
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