TINHA APENAS QUE SER BOM

O Sr. Henrique aguardava ansiosamente pelos candidatos a vaga de vendedor técnico, eram dois candidatos, e apenas uma vaga, e isso o deixava ainda mais ansioso e esperançoso, depois de tantos anos sentado em sua mesa no escritório da empresa que começara, via agora nessa contratação a possibilidade de sair do ostracismo, deixar a falta de prazer de entusiasmo da época em que fundara a empresa.

Dias e dias atrás de um balcão na primeira loja, pequenina, muitos desafios conquistar clientes no laço, com paciência e bom atendimento, fechar uma venda com maestria, assim construíra o império que deixaria para os filhos.

Fora persuadido pela secretária, Dona Susy, que acompanhara o nascimento daquela empresa, e que via nos olhos do chefe a falta de brilho, a falta de interesse pelas coisas da empresa, não foi a toa que conquistara vinte sete lojas nas capitais dos estados brasileiros, e mais dez nas grandes cidades, as maiores dos estados depois das capitais.

Fora bom negociador, comprara bem, para vender a um bom preço, ter um bom lucro, tornara a empresa de venda de máquinas e equipamentos para construção civil e construção pesada sólida, estrutura bem organizada, mas perdera a paixão pelos negócios, se perdera na visão panorâmica que a gigantesca janela de seu escritório lhe proporcionava.

Arthur, jovem, recém formado no curso técnico em construção civil, fizera ainda pesquisas e curso na área de máquinas e equipamentos, dominava a função que pleiteava, ainda que teoricamente, preencheu o formulário de emprego, respondeu todo o questionário rapidamente e com uma segurança de quem sempre fez aquilo.

No balcão de vendas seu atendimento foi impecável, explicação metódica, usou de todos os termos técnicos, meticuloso, sua apresentação do produto não deixou que o cliente suscitasse qualquer dúvida.

Abordagem, atendimento, apresentação, negociação e venda! Perfeito!

Arthur não imaginava que Henrique era o dono da empresa, pensou consigo que ele reportaria ao futuro patrão o sucesso de seu teste!

José chegou meio acanhado, sabia do sucesso do concorrente, imaginava que o dono da empresa lhe daria o emprego se soubesse do desempenho do jovem, mas chegou até ali, anos de trabalho com construção civil, atendera muitos pedreiros e donas de casa comprando materiais para construção e reforma, agora se tratava de um outro tipo de venda, eram empreiteiros, construtoras os clientes agora, consumidores varejistas também, mas o foco era os grandes, pensou em como sua vida mudaria, olhou para dona Susy que o observava, começou a preencher o formulário, respondeu o questionário calmamente, teve algumas dúvidas, voltou atrás, leu novamente, perguntou alguma coisa a dona Susy, enfim terminou o questionário, agora faria o tão aguardado teste do balcão.

O sr. Henrique mais uma vez estava próximo, observando, jamais dera a entender que seria o dono da empresa, para os candidatos, não passava de um mero encarregado, incumbido de lhes aplicar os testes e passar o resultado para o RH, resolveu dar o melhor de si, sabia que ali sua vida mudaria, que teria condições de comprar a tão sonhada casa, dar um vida melhor a esposa e aos filhos, sabia que o jovem era melhor preparado, havia estudado para aquilo e era mais jovem, mas ele, ele contava com sua experiência em vendas, e os muitos anos de trabalho, pintando uma casa aqui, construindo um muro ali como bico nas horas extras, e o eterno diálogo com a esposa sobre o casamento, e com os credores para ganhar mais prazo para pagar a divida.

- Bom dia, você é o vendedor?

- Bom dia! Sim, meu nome é José e vou atendê-lo, como posso ajudar?

- Olha só, preciso de uma betoneira que movimente 600 litros de material, você tem?

- Sim, tenho uma máquina que movimenta 360 litros...

- Mas eu quero uma de 600...

-Ela tem essa capacidade no tambor, mas só mistura 360 litros, bem misturados, não adianta eu dizer que ela vai misturar perfeitamente a massa, e quando o profissional for trabalhar, encontrar cimento e areia sem misturar, a capacidade nem sempre esta em conformidade com a capacidade ideal de material para ter uma massa bem misturada.

- Tudo bem eu entendi, e cimento? preciso de mil e duzentos sacos de cimento, você tem o Portland cp1?

- Sim, mas me desculpe, qual a aplicação do cimento, qual tipo de obra vai usar?

- Ô meu amigo, eu sou comprador, o engenheiro me deu a lista e eu vim comprar, da o que eu pedi e pronto...

- Calma amigo, é o primeiro dia dele e,...

- Tudo bem Henrique. Cortou José educadamente- Eu sei o que estou fazendo, e nosso amigo aqui ainda vai nos agradecer muito por tentar melhorar o atendimento dele. Falou simpaticamente com um sorriso José.

- Meu amigo, o Portland cp1, é o comum, se você usá-lo para construir um dique por exemplo, ele pode ruir com o tempo e causar enormes dores de cabeça, existe o Portland composto, o auto-forno, que tem aplicações diferentes por isso te pergunto.

- Perai deixa eu ligar para o engenheiro.

Minutos depois, o rapaz retorna, obrigado amigo, ele me pediu desculpas por não ter especificado o tipo de cimento, e agradeceu porque esse cimento vai para a construção da hidrelétrica lá no norte, e se chega lá e o pessoal não confere, ia mesmo dar muita dor de cabeça na hora de testar a estrutura, imagina ter que derrubar uma usina inteira? O cimento é o Portland de Alto Forno CP III com escória mil e duzentos sacos, vê quanto fica.

Seu Henrique afastou-se, e observava como surgiam objeções, e como José as contornava, via crescer o valor da compra de material, e a satisfação do cliente a cada item da lista adicionado a compra.

Seus olhos brilhavam, não havia sido perfeito aquele atendimento, haviam limitações em José, mas havia também conhecimento, havia entusiasmo, havia doação, humildade em buscar informações que não sabia, e desejo de conhecimento, Henrique se viu em José no inicio de carreira, quando O PARAÍSO DAS MÁQUINAS era ainda uma lojinha de uma portinha, foi exatamente como deveria ter sido, foi bom.

José era o vendedor mais procurado da loja, conseguiu através de sua vaga de emprego, comprar a tão sonhada casa, a vida de casado agora é uma maravilha, pode dar tudo que deseja para os filhos. Recentemente pediu a contratação do jovem Arthur, disse ao Sr, Henrique que depois de contratado veio a saber ser o dono da empresa, que o jovem bem preparado seria um excelente vendedor, tinha talento dissera.

Sr. Henrique passou a visitar a loja diariamente, discutia com José e Arthur o caminho que tomava o comercio no Brasil, queria saber sobre a família e os projetos para o futuro.

Outro dia comentou com dona Susy, que sonhava em abri filiais na Argentina e no Paraguai, com o velho brilho nos olhos!

Renato Cajarana
Enviado por Renato Cajarana em 17/12/2012
Reeditado em 01/01/2013
Código do texto: T4040362
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