Reminiscências do terno amanhã...

"[...]porque tudo será bom e perfeito, quando os próprios homens forem bons e perfeitos; até lá séculos passarão."

MORUS, Thomas. Utopia.

Minha cabeça dói um pouco, alguns fantasmas aparecem do nada pra me azucrinar. Nada como um bom gole d'agua, um momento de conversa interessante, pessoas interessantes.. as recordações aportam em minha mente como velhas fotografias amareladas...

E eu penso, como seria andar de novo, repisar as mesmas velhas estradas, sentir o doce perfume no ar, o alento...

E no entanto, hoje entre os insetos que pairam, doces luzes aparecem, com um convite.. um belo de um amanhecer. Eu preciso renascer de mim...

Não compreendo muitas coisas, porque o reflexo do espelho me persegue. Odeio ser feito de idiota...

O suor que pairava sobre minha face secou, encubriu minhas rugas, desenhou novas possibilidades, e no entanto que sei eu?

Eu paro e penso, não haveria lugar para minha em uma Utopia, assim como não há lugar para mim, novamente, em um palco ao brincar de "Quebra-Nozes".

Eu caminho tanto quanto escrevo, talvez uma maldição antiga, talvez ainda o meu mal esteja em me ver como um outro alguém e desenhar para mim as soluções que não vejo acontecerem.

Posso caminhar muito, parecer idiota, mas sou livre a pensar no vôo, no abrir de asas para ganhar as estrelas num sonho de um belo anoitecer...

Eu penso como o mar noturno pode ser belo, como tudo pode ser bom em uma boa companhia. Eu respiro, as rosas me fazem mal, lembram talvez o mundo dos sonhos em que habito em uma noite terna, sombria em meio ao inverno...

E eu sopro as velas... velas não me parecem boas coisas, remetem a um outro mundo... o fogo é perigoso, mas pior do que ele são as paixões. Destroem mais da alma do que se crê entrever nas linhas de uma mão.

E no entanto eu lembro do futuro que não veio... mas daquele que vira eu nada sei.. que divertimento posso eu encontrar em jogar dados?

Mas eu ainda espero amanhecer, à deriva no mar, dos sonhos, das lembranças, do inefável e do futuro.