E QUANDO O FUTURO CHEGAR?

A fazenda do vovô era um refúgio para nós que vivíamos em um apartamento de dois quartos e uma sacada para ver o movimento das ruas do centro agitado da cidade.

Quando entrávamos em férias, ficávamos agitados e esperávamos ansiosos pelo dia da viagem até onde meus avós moravam e guardavam as histórias da infância do meu pai.

Os parentes da minha mãe também moravam naquela região, por isso, na nossa chegada, éramos muito bem recebidos. Eles diziam que éramos o povo da cidade grande. Minhas tias, preocupadas em agradar o tempo todo, faziam muitas guloseimas para as crianças que, naquela época, enchiam a casa da fazenda com correrias, brincadeiras e gritos e muita fome. Vovô nem se importava, pois dizia que aquilo era energia guardada que precisava ser gasta pelos vastos pastos daquele lindo lugar.

Meus primos e eu não contávamos tempo para transformar nossos dias de férias em infinitas brincadeiras. Sentíamos que o tempo colaborava com a gente ao demorar em passar. O mais gostoso era lidar com a terra e com os bichos na fazenda do vovô. Era renovador tomar banho de rio e sentir o cheiro da água doce e transparente que lenta contornava as visguentas pedras escuras. Mesmo parados, sem nada para fazer, tudo era motivo para inventarmos histórias e joguinhos com regras que surgiam enquanto brincávamos. Às vezes, isso até acabava em discussão ou em outra brincadeira dentro de casa. Era um período que não sentíamos a mínima vontade de assistir à televisão ou de fazer qualquer coisa que costumávamos fazer quando estávamos em nossas casas. Amávamos a novidade que parecia existir em tudo o que estava naquele lugar.

Meus primos, os meninos da vizinhança e eu nos reuníamos todos os dias para curtir cada metro quadrado daquele chão cheio de natureza. As brincadeiras variavam entre as conhecidas e as que se apresentavam à medida que o dia avançava. Como era bom estar na casa do vovô!

Havia um baú cheio de objetos, fotografias, cadernetas, papéis, roupinhas de bebês e brinquedos que vovô dizia ser um pedaço de sua história. E era bem verdade! Todos os dias, após a janta, ficávamos estirados no tapete da sala enquanto ouvíamos as diversas histórias contadas pela voz grossa e pausada do vovô. A vovó somente confirmava os fatos, balançando a cabeça para lá e para cá e sorrindo.

Incrível como pequenos objetos podem ter tanto para dizer às outras gerações! Aqueles foram momentos inesquecíveis e que atribuíam significado a minha infância também. Eu não sabia, mas tudo o que vivia naquele instante eram pedacinhos da minha história que se juntavam para formar minha vida de menino da cidade. Eu realmente não sabia que aqueles seriam os melhores momentos que um dia poderia narrar para meus netos e bisnetos.

Meus avós foram pessoas importantes na minha vida, pois eram pacientes, companheiros e cheios de histórias para que, hoje, eu tivesse o que dizer. Onde viviam, iluminavam a vida dos filhos e netos. Eram sábios e experientes. Valeu cada minuto no passado, ao lado deles e dos meus primos. As minhas férias, na casa de sítio dos meus avós, fizeram-me crescer como pessoa, pois me tornaram alguém feliz.

Quando o futuro chegar, trarei em mim a felicidade de ter plantado vida no meu coração, porque acredito que as corridas pelos pastos, as brincadeiras na rua e na água do rio foram momentos inesquecíveis e valiosos que hoje posso chamar de FELICIDADE.

Luciane Mari Deschamps

Luciane Mari Deschamps
Enviado por Luciane Mari Deschamps em 20/12/2012
Reeditado em 21/12/2012
Código do texto: T4045857
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