DA TRISTEZA À ESPERANÇA

Um homem sentado na sarjeta tentava segurar a sola do sapato ao que restava do calçado. Ele o havia encontrado próximo a uma lixeira de edifício.

Estava difícil o remendo. Sem nenhum acessório para a reconstrução, resolveu segurá-lo em uma das mãos e voltar a andar descalço.

A calçada fervia com a temperatura de 38 graus. (Era o que marcadva no digital da rua.) Aos poucos, ele percebeu que seus pés ardiam muito e parou. Recostou-se na parede de um antigo casarão e sentiu que não podia mais prosseguir: seu pés sangravam e doíam muito.

Não contendo as lágrimas, abaixou-se e voltou a sentar. Sua pele fraca, pálida e desnutrida alardeavam seu total abandono.

Sem perceber ser notado, um profundo silêncio se apoderou do seu ser. Nada era tão deprimente, em seu entendimento, do que não poder mais caminhar, ir atrás das lartinhas e garrafas que lhe compensavam algumas moedas, depois trocadas por um pedaço de pão e um café amargo. Essa era a sua refeição diária. Nem mais nem menos.

O home que de longe o observava aproximou-se e lhe perguntou as horas. Ele sorriu espantado e respondeu que não possuía relógio. Assim, iniciaram um diálogo.

Lentamente o homem lhe falou de um abrigo, não muito longe dali, onde ele poderia tomar um banho, receber uma sopa quente e deitar-se em uma cama com colchão e lençóis limpos.

Foram até o local. Aparentemente o homem dos sapatos se conformou. Ao chegarem, qual não foi sua surpresa: aquele lugar era como um sonho de criança, com as mais inesperadas surpresas.

Os outros moradores o saudavam como se já o conhecessem de muitos anos, os funcionários logo o conduziram a um quarto com duas camas guarnecidas de roupas individuais, travesseiro e cobertas.

Tudo era tão limpo, acolhedor e simples a um só tempo. Imagem que ele levaria em sua memória desde aquele dia.

No banheiro, sabonete, toalhas, creme de barbear e giletes (novinhas!). Ele não entendia como, por tanto tempo perambulou naquela região, ele jamais tinha perecbido aquela tão encantadora morada. Rústica, porém, com um grande coração.

Retornando ao quarto, viu que, sobre a cama, havia uma caixa com os dizeres: “ Seremos seus companheiros para qualquer jornada”.

Ao abrir, um par de sapatos novos o aguardavam, prontos para uso e para resgatar um olhar de felicidade em quem já havia perdido a esperança.

São Paulo, 21 de dezembro de 2012.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 22/12/2012
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