Natal ou Saturnália?

Oh happy day


 
            Recordo-me como se fosse hoje.  Esta passagem se deu no meu curso Clássico e eu estava com meus 16 anos.  Interessante a memória seletiva, meu cérebro acabou selecionando o fato que vou contar e que está me ajudando a escrever esta crônica de fim de ano.
            O nosso professor de História Geral, o professor Maurício, já entrava em nossa sala de aula com as pernas tremendo. Sim, tremendo de medo do meu colega Fernando Guimarães. Não, amigos, não era violência, como nos dias de hoje. Nem pensávamos em violência, época em que não existia a fatídica droga.  É que o Fernando sabia mais história que o professor. E encarnava no mestre, corrigindo-o quase toda a aula. Nesse dia, aprendi que a Igreja Católica aproveitou o festejo pagão dos romanos  chamado Saturnália, para festejar o Natal, o nascimento do Salvador, Jesus de Nazaré.
            Soube pelo Fernando e estou contando de ouvido, apenas de lembrança, que os pagãos festejavam o deus Invictus, exatamente no dia 25 de dezembro. Mas a festa era um verdadeiro bacanal, com grande banquetes e com a frouxidão dos costumes. E havia o hábito das pessoas se presentearem.  A Igreja, já no século VI, pelo que me lembro, colocou no lugar do deus Invictus, o nascimento do filho de Deus e procurou incutir no povo o respeito pela data, deixando de lado os banquetes e os presentes.                    Bem, amigos, essa é mais ou menos a história de que me lembro e peço desculpas pelas lacunas e omissões, bem como eventuais erros. Afinal, não sou o Fernando...  Historiadores também falam que a saturnália deu origem ao nosso carnaval, mas isso já é outra estória...

            Esse detalhe histórico está servindo para falar mais uma vez do Natal e refletir se a maioria ainda não está praticando mais a Saturnália do que o Natal propriamente dito. E ia enveredar pela crítica afora. No entanto, sinceramente, não me vejo com autoridade para essa crítica moral e desconfio muito que a maioria das pessoas não liga para o que a gente fala.
            Talvez seja melhor fazer a crítica bem humorada, como fazia Bernard Shaw ou Erasmo de Roterdam  e evitar o desgaste da polêmica.
            E também não tenho mesmo temperamento para as críticas, mesmo as mais justas. Deixo isso para os mais competentes. Mas não posso fugir às minhas raízes cariocas e tirar desta minha lembrança uma gozação, alertando os amigos e amigas que tentarei surpreender, cariocamente falando. O que significa terminar com alguma besteira, só pelo gosto da brincadeira.
            É sabido que ao contarmos nossas estórias, sempre algo de escandaloso acaba surgindo. E a plateia adora...
            Recusei-me, pois, a ser sentimental a respeito do Natal, onde poderia falar de bondade, de altruísmo, do perdão, do amor que deveria reinar entre nós,  e de todos os sentimentos bons que nos invadem na data natalícia e que estamos, evidentemente, de acordo, embora, apenas,  uma minoria siga os ensinamentos de Cristo. A grande maioria, infelizmente, ainda se apega à Saturnália.
            Quero deixar um texto alegre, como bom habitante do Rio de Janeiro e ousar até a soltar um palavrão, na hora certa, e que os leitores, me conhecendo, desculparão. Na hora certa o palavrão deixa de ser palavrão e vira uma vírgula, uma emoção reprimida, sei lá... Talvez a ânsia de ver a humanidade com o verdadeiro espírito do Natal. 
            Praticamente, não falei do Natal, brinquei, brinquei e  não me levei a sério, mas deixando nas entrelinhas o recado maior do dia 25 de dezembro.
           " Puta que pariu", é que eu  sou carioca!
 
Gdantas