AS RUGAS E EU

Não sei por que cargas d’água nesses últimos dias, sempre que penso em cantar uma música, uma melodia qualquer, a primeira música que me vem à mente é “A lua e eu”, do Peninha. O mais interessante é que os únicos versos que meu subconsciente consegue lembrar são os seguinte “quando olho no espelho, estou ficando velho e acabado”. Nada contra o “eu poético “ do cara, mas “vai morrer pra lá”, com esse pessimismo pressagioso.

Apesar dos meus 43 anos e 11 meses, não me sinto velho e acabado. Até por que muitas coisas se tornam mais agradáveis e saborosas, somente depois de um longo período de existência. Um exemplo disso são alguns vinhos. Isso mesmo! Alguns. Ao contrário do ditado popular que diz “vinho bom é vinho velho”, a média de vida de um vinho comum gira entorno de 1 a 5 anos. Segundo pesquisas, só 5% dos vinhos podem ter longevidade. E diga-se de passagem, que essa longevidade varia entre 5 a 50 anos. Mas para que isso aconteça é necessário que se respeite alguns critérios: o tipo de uva, o modo de produção e o tipo de armazenamento.

De modo análogo, assim se dá com o homem. A longevidade do homem, sem a perda da sua essência e de seu sabor, depende do tipo de homem (índole, caráter), do modo de produção (o meio em que vive, as pessoas com quem anda, as escolhas feitas) e o tipo de armazenamento ( o aprendizado, como diz o apóstolo Paulo “julgai todas as coisas, retende o que é bom”). Infelizmente, também isso só ocorre com 5% da humanidade (palpite meu).

Bom! Se por um lado, “acabado” quer dizer velho, gasto, abatido; por outro lado, “acabado” quer dizer completo, perfeito, terminado. E aí?! E aí, que eu não me sinto acabado nem por um lado, nem por outro. Mas como tenho que escolher um dos significados para aplicar em minha vida, vou ficar com o segundo.

Por que o segundo? Explico-me. A vida tem feito maravilhas em mim. E por que não dizer o tempo? Já se passaram 22 anos em que conheci um linda menina. A primeira vez que a vi, senti algo estranho percorrendo todo meu corpo. Um descontrole total. Acho que eu já estava “todo dominado”. Era o amor! Hoje essa menina é uma mulher, minha esposa. E hoje sinto que a amo muito mais. E por que não dizer que a amo com um amor acabado? Amor perfeito, completo!

Hoje também sinto que sou um pai muito melhor do que antes. Cheguei até pensar que estava ficando frouxo, “besta”, para os meus filhos. Mas agora sei que não é nada disso, é apenas sabedoria. Hoje tenho mais sabedoria paternal do que antes. Hoje sei ser duro, quando devo ser duro; sei também ser flexível, quando devo ser flexível.

Hoje sei olhar para as coisas e para as pessoas e ver que tudo e todos têm algo positivo; sei também distinguir os dois lados de uma “moeda”. Hoje sei dar conselhos e também sei dar bronca, sem que isso venha ferir alguém que amo. Hoje sei entrar e sair. Hoje sei, definitivamente, que não sou nada e não sou ninguém, sem que Deus esteja no controle da minha vida.

Hoje quando olho no espelho vejo que estou “ficando maduro e lapidado”. lapidado no sentido de refinado, polido. A lapidação é um trabalho árduo e delicado feito pelo lapidário em pedras preciosas. A lapidação bem feita é capaz de dar mais valor a uma pedra de baixa qualidade do que a uma pedra de alta qualidade, porém mal lapidada. O tempo e a vida têm sido os meus lapidários.

Diferentemente das pedras preciosas, a lapidação tem deixado marcas em meu rosto, nada exagerado, não! Essas marcas são as rugas. Estive pensando sobre elas e cheguei a seguinte conclusão: ruga é a antítese da degradação. Rugas são as linhas da vida, pelas quais o tempo escreve minha história e sinaliza para o mundo, dizendo a todos que quiserem lê-las: eis aí um homem que tem muito a ensinar-lhe. Rugas são as vozes do meu gene, exteriorizando para o mundo as renhidas da vida que me fazem vencedor.

Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 08/01/2013
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T4073735
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