O Suicídio

Ele que nunca acreditou no amor agora morreria por ele.

O "tic-tac" do relógio na parede quebrava o silêncio do quarto escuro. Os segundos estavam sendo contados um a um e então seria uma questão de tempo até o corpo adormecer aos poucos, e seus sentidos começarem a falhar levemente, segundo a segundo. A morte seria doce e quem sabe até mesmo prazerosa, pelo menos foi o que ele leu na internet. Quando a vida perde o sentido, quando as pessoas perdem a graça ou até mesmo quando viver mais um dia se torna um enorme desperdício é hora de agir. Ele pensou no namoro perfeito que tivera por quase seis meses. Lembrou dos olhos dela, verdes e profundos. Lembrou dos cabelos cacheados quase sempre desgrenhados, cobrindo o rosto redondo com uma boca vermelha e sorridente, estampada logo abaixo do nariz perfeito. Sim, ele a amava. Pensou também nos fatos da última semana: O término do namoro - ela alegou estar cansada demais para aturar as criancices dele. Sim, ele a odiava. O boletim escolar com notas muito aquém das que seus pais planejaram, o computador que pifou, o celular que roubaram. Tudo numa única semana.

"Se deus existe ele quer me ferrar... e ferrar grandão!" - pensou com raiva, com os olhos marejados. Enquanto os segundos estalavam em seus ouvidos algumas dúvidas passavam por sua mente. Será que o suicídio seria a melhor opção? Talvez a Fátima teria razão quando terminou com ele; Suas atitudes infantis nem ele mesmo estava suportando mais.

Levantou rápido, ele não queria mais morrer. Correu para a cozinha e bebeu quase um litro de água. Depois disso foi ao banheiro, cutucando a garganta com os dedos numa tentativa frustrada de induzir o vômito. Ele não conseguiu. Ele estava tremendo de medo de morrer. Ele não sabia porque tinha feito aquilo, mas agora era tarde. Voltou para o quarto, cobriu-se com um lençol e cruzou as mãos sobre o peito, aguardando o momento em que seu coração pararia de bater.

O "tic-tac" do relógio na parede quebrava o silêncio do quarto escuro. Os segundos estavam sendo contados um a um e este ciclo já estava se repetindo a mais de uma hora. Ele ainda não havia morrido. A porta do quarto se abriu bruscamente:

-Joaquim, foi você quem tomou a cartela inteira de aspirina? - Disse a mãe, parada na porta tentando entender o que estava acorrendo no quarto do menino.

Ele não respondeu.

Permaneceu inerte, esperando a fria e cruel morte entrar pela porta para ceifa-lo.

Pensou na Fátima, "aquela puta". Sim, ele a odiava.

Eli Prates

26-03-2012