Funesta solidão

A doçura do tilintar dos cristais do mensageiro dos ventos. O aroma verde da brisa que entra pela varanda. Cada nota do silêncio noturno soprado em meus ouvidos. Tudo me traz a saudade do algo que não vivi.

Os grilos e seus lamentos soltos no vento, o brilho da relva, o espelho do luar que o céu enfeita. Até o brilho das estrelas - me trazem, com tristeza, o timbre da voz grave que escutara ao longe.

Mas, aqueles olhos, que cruzaram os meus... Estes, ficaram gravados na minha mente. Cada parede envolta na penumbra da casa escura, parece ter impressa, às escondidas, uma foto de quem ali jamais esteve.

Uma lágrima se desprende, rebelde, derramando-se no frio mármore do para-peito. Acordo do transe. Ao meu lado, o copo de vinho - meio cheio ou meio vazio?

Me volto. Ao pé da cama, ressona Dalila, felina e velha amiga.

Contemplo o piano. Brilho obscuro, silencioso. Por vezes, mórbido adorno.

Sobre a cama, num sobressalto, me vejo. Jazindo ali, sob aqueles lençóis floridos, o meu eu que sonhava. "Morreu dormindo".

Fernanda Bess
Enviado por Fernanda Bess em 12/01/2013
Código do texto: T4080873
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