O último cafezinho
 




 
                          Ah!  Talvez tenha sido melhor assim.  Sem derrota. Sem acusações, sem lamentos, sem punições. Sim, um desgosto, um arrependimento, possivelmente uma lágrima, na hora da lembrança...  Por outro lado, a alegria dos dias bons passados com muita ternura, os sonhos mirabolantes, a visão de um futuro prometendo felicidade eterna. Momentos delicados, amorosos. Paixão ardente e um sentimento de um grande amor vivido. Isso não bastaria para dar significado a uma vida inteira e que logo ali adiante vai acabar? Pois tudo passa, tudo acaba neste mundo que parece não gostar da permanência.
                         Vamos fazer de conta que o mundo acabou naquele dia em que resolvemos sumir um do outro.  Pensando desse jeito, tenho certeza que não vamos mais sofrer dessa ausência. Pronto: serenos, já temos um culpado único para a nossa desventura. Foi o mundo, o nosso mundo que findou...
                          Assim, seremos os únicos amantes vitoriosos que o tempo não conseguiu nos desgastar. O melhor da viagem não é chegar ao destino, muitas vezes cruel.  O melhor é o preparativo para viajar. E como nos preparamos! Como nos abraçamos!  Como nos rimos de nós mesmos!  E como nos amamos intensamente para esse destino, que nem precisa chegar mais...
                        Driblando nossa sina, mas  pleno de amor, façamos como o rapaz da música, tomemos nosso último cafezinho, ao apagar das luzes dessa vida ingrata!