O lambe-lambe
Na mesma praça um contraste notório para qualquer observador. De um lado a tecnologia de ponta representada por um equipado studio do Fujioka, no outro, na mesma calçada, um primitivo lambe-lambe.
O fotografo do lambe-lambe era uma figura exótica: cabelos, costeletas e bigodes brancos e crespos, a pele bronzeada. Para completar, não poderia esquecer dos acessórios: chapéu, óculos de aros grandes e arredondados, terno de brim cinza, um par de botas com fivelas prateadas.
Era um personagem sobretudo alegre, receptivo e extremamente comunicativo.
Lá estava ele ao lado de sua máquina fotográfica apoiada num tripé que mau a sustentava. O pente para os retoques finais dentro de uma sacola de supermercado. O espelho naquela moldura avermelhada não beneficiada pela tecnologia, todo chamuscado de manchas escuras, amparado por um papel?o, seguro por pequenos pregos.
Mas você não imagina que alegria e que prazer esta figura simples proporciona às pessoas, que por motivos diversos, recorria aos seus serviços.
Se é um adulto, ele pergunta:
- Para que é o retrato?
- Para tirar algum documento?
- Para o novo emprego?
- Para mandar a família distante?
De acordo com a resposta do cliente, o fotógrafo dá suas sugestões mágicas.
Quando o freguês é uma criança, ele é mais simpático ainda! Daí a conversa é outra:
- Aqui está o pente ajeite os cabelos. Tem água também, molhe-os. Arrume a gola da blusa. Deixe os lábios descontraídos, pois assim você demonstrará satisfação para aqueles que, quem sabe, guardarão esta foto e sentirão a alegria da sua presença ao olhá-la.
Ou então questionava:
- Para que você quer esta foto?
- Ah, é para a escola! Então sua professora jamais esquecerá este rosto de aluna feliz, com estes olhos redondos que brilham cheios de curiosidade e vontade de aprender.
E a criança ficava ansiosa para ver o resultado de tantos preparativos.
Naquela praça, em poucos minutos, assisti, ao vivo e à cores, uma lição de vida, uma demonstração de como ser e fazer o outro feliz, da alegria de viver e de servir.