FUGITIVO
Fugi, mesmo!
Não me envergonho nem um pouquinho disso, pois sempre ouvi dizer que “seguro morreu de velho”.
Acreditei na profecia maia e na marca fatídica do dia 21 de dezembro de 2012, e subi a serra em busca da cidadezinha de Lumiar, que carrega a mística de ser um polo de alta energia vital e onde, por coincidência, tenho um sítio.
Porém, como sucedeu na Batalha de Itararé, nada aconteceu e, pelo contrário, o dia foi radioso e o céu expunha um azul profundo, onde enormes cúmulos flutuavam lentamente.
O ancestral maia, talvez com umas biritas a mais na cuca, calculou mal, errou nas casas milesimais e por essa infinitesimal falha deixou de tocar o alvo e, desviando-se da rota, a data foi transferida para, apenas, daqui a 5 milhões de anos , quando – dizem – o sol se apagará. Bem, pelo menos eu não estarei lá pra conferir.
Tudo bem, não aconteceu! Mas deveria.
Deveria porque a humanidade está se desumanizando. Estamos fazendo de tudo para um suicídio planetário. A população cresce incontrolavelmente e, com isso, agrava-se exponencialmente a necessidade de alimento, de água, de esgoto sanitário, de energia, de descarte de lixo, de saúde pública. Somos carrascos de nós mesmos.
Paralela e loucamente continuamos desertificando áreas nobres, poluindo os mares, desequilibrando os ecossistemas, extinguindo espécimes animais e vegetais.
Acho, então, que alguma coisa deveria mesmo ter acontecido! Algo que tivesse a força aglutinante necessária para atingir todos os habitantes deste maltratado planeta, que falasse todas as línguas, que fosse por todos entendido.
Alguma coisa que transcendesse o colóquio amigável, que pudesse galvanizar todas as consciências, que fosse impactante, que machucasse de verdade!
Creio que está mais do que na hora de um “freio de arrumação”.
E, para mim, honestamente, isso só seria possível através de um sentimento que já é universal desde priscas eras; o medo, o pavor, o terror, o holocausto, a peste, a fome, o apocalipse! Essa é a linguagem universal!
Esse idioma todo o homem entende porque grita em seus ouvidos que ele é minúsculo, desprezível e iníquo, que ele vale menos do que a mosca do cocô do cavalo do bandido, que é, simplesmente, um sujo grão de areia no contexto universal.
De tudo quanto foi dito, tenho consciência plena de que, a seguir como estamos, quando o sol se apagar não fará diferença alguma, pois a Terra já estará morta há milênios.
(não deixe de ler a colega Maria do Rosário Bessas, que, para nossa maior alegria e orgulho, acaba de ser indicada para receber o Premio luso-brasileiro – Melhores Poetas de 2013)