Ser ou ter? Eis a questão.

Assisti dia desses uma reportagem no Jornal Nacional sobre o aumento de cursos de medicina em Faculdades sem tradição atrelado a diminuição da procura e empobrecimento dos cursos nas grandes e tradicionais Universidades.

A opção pelos cursos em Faculdades alternativas se dá pelo custo ou por imaginar ser a mais nova mais moderninha ou menos exigente, mais perto e outros detalhes que recaem sobre uma má qualidade de ensino e consecutivamente uma má qualidade de médicos, o que é preocupante.

Ai pensei, temos muito, mas com pouca qualidade de muitas coisas hoje em dia. Muitos amigos (contatos melhor dizendo), muitas lanchonetes, muitas marcas e achamos isso o máximo, realmente muita coisa é o máximo, mas muito também é o mínimo e muito se perdeu.

Nas perdas não visualizadas ou contabilizadas, por se estar deslumbrado ou alienados, vai se criando um sistema interno que acha que mais é sempre melhor e que o maioria acha, faz, gosta, é bom.

Adolescentes que deviam estar nos playgrounds, shoppings, praças, praias, estão de frente para um PC ou o celular de manhã, de tarde e de noite, se orgulham em dizer que possuem 3.000 amigos no Facebook, por exemplo e eu duvido que lembre o telefone de alguns deles para ligar, que algum deles atenda de pronto a um chamado, um pedido, coisas de amigos não de contatos.

Pior ainda, adultos, uns sem rumo na vida e outros com família estruturada, dão mais atenção aos amigos virtuais, se preocupam em postar fotos e gracinhas a ver seu filho recém-nascido dar o primeiro sorriso, visitar um amigo doente ou deixar um bilhete de próprio punho na geladeira com alguma gracinha, recadinho, mimo.

Empresas têm cadastros de “clientes” com milhares de nomes, serão mailing´s com quantidade o diferencial ou com qualidade e acompanhamento?

Queremos ter muitas coisas, muitos objetos, viajar muito, ir a muitos lugares que tenham muita comida, muita gente. E a qualidade?

Será que muitos dos nossos problemas não estão relacionados a esses excessos?

Será que não seria melhor termos menos experiências, com mais qualidade?

Ninguém, no sertão por exemplo, tem muitos dos nossos problemas, para eles problema é faltar água, não ter ou não saber onde colocou o candeeiro, porque a noite não há luz elétrica, ficar doente e não poder trabalhar, ter um parente ou vizinho passando dificuldades, não andar, não amanhecer com saúde para dormir agradecendo pela vida. É uma falta não tirar o chapéu ao falar dos entes que já se foram ou ao pronunciar o nome de Deus.

A busca do muito, do estético, do popular, dos desafios constantes, da excelência, dos valores cultivados e cultuados hoje em dia empobrece a vida, é o que penso. Todo mundo parece querer ser o maior e não o melhor.

Simplificar é a receita da felicidade, o valor está na qualidade. A intimidade de um casal está na mão dada, na troca de olhares que falam, em saber o que o outro está sentindo ou pensando, em ver o que uma pessoa gosta e lembrar-se dela imediatamente. Está no sorriso de uma criança, em descansar numa tarde de domingo com a cabeça vazia, paz no coração

Precisamos de um mundo que valorize a qualidade, a simplicidade do que são as pessoas e as coisas e o quanto podem ser boas e agregadoras e não o quanto podem exibir e ter. E tenho dito!

Tina Bau Couto
Enviado por Tina Bau Couto em 13/01/2013
Código do texto: T4082519
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.