Dado Psicopata

Agachou-se na porta da cozinha e foi logo amarrando os cadarços de seus sapatos. Olhou ao redor: A mãe estava na sala, passando roupas enquanto assistia televisão, o pai estava na garagem, tentando consertar o escapamento do carro, e Vivian, sua irmã já tinha ido para a aula.

Levantou-se, foi até a dispensa; atrás das latas de óleo ele havia escondido um pacote de biscoitos, que surrupiara do quarto de sua irmã. Fechou a porta da dispensa com cuidado, evitando o mínimo barulho, sabendo q sua mãe tinha ouvidos afiados, capazes de escutar os passos das formigas, pelo menos foi o que ela disse.

Abriu o balcão da pia, pegou o pequeno saco plástico contendo veneno para ratos, que vira seu pai esconder ali há alguns dias.

Colocou o pacote de biscoitos e também o saquinho de veneno para ratos na sua mochila e foi ao banheiro, sorrateiramente.

Fechou a tampa do vaso sanitário e despejou o conteúdo de ambos os pacotes sob a tampa. Misturou com cuidado até os pedacinhos vermelhos do veneno para ratos ficarem grudados nos biscoitos. Guardou a mistura mortal no pacote de biscoitos e o colocou em sua bolsa. Embrulhou a embalagem de veneno com papel higiênico e jogou na lixeira.

Tentou sair despercebido para a rua pela porta da cozinha, mas foi surpreendido por sua mãe que preparava café.

- Aonde você vai, mocinho? - Perguntou a mãe, sorrindo, achando engraçado o filho estar com uma mochila nas costas.

- Vou para rua mãe, andar de bicicleta e matar alguns cachorros - disse o garoto de oito anos, sério e com ar decidido.

- Mas o que os cães fizeram para você? Porque quer matar os pobrezinhos? - Perguntou a mãe, rindo.

- Cães latem, mamãe... Eles fazem barulho. E toda a noite eu demoro para pegar no sono por causa desses malditos cães, que ficam latindo a noite inteira. - Falava o filho enquanto saía pela porta da cozinha.

- Tudo bem, mas não demore! - Gritou a mãe, enquanto seu filho pegava bicicleta que estava jogada desde cedo no quintal.

Saiu pedalando rapidamente. Foi para o final da rua, indo direto na raiz do problema.

Era quase nove horas da noite e nesse horário todos estão dentro de suas casas, se preparando para assistir as novelas.

Encostando a bicicleta em cada muro que na casa tinha algum cão, ele abria a mochila, enfiava a mão no pacote de biscoitos e jogava um punhado para dentro do quintal.

Fez isso em toda a rua. Ele ria, achando engraçado o desespero dos cães em comer os biscoitos cuidadosamente preparados.

Em menos de trinta minutos ele já havia envenenado todos os cães da rua e agora já poderia voltar para a casa, contente com o trabalho executado de forma minuciosa.

Chegou em casa eufórico, com o rosto suado e vermelho.

A mãe e o pai na sala, assistindo televisão, não notaram quando ele entrou. Foi direto para o quintal dos fundos, abrindo a mochila e gritando:

- Milu, Milu! Venha cá Milu!

O cachorrinho de sua irmã, saiu de sua casinha abanando a cauda enquanto farejava e comia os biscoitos que o pequeno garoto de oito anos jogara no chão.

- Come Milu! Come, cãozinho! - O garoto ria, enquanto despejava no chão o que sobrara em seu pacote de biscoitos.

A mãe ouvindo o barulho nos fundos gritou da sala:

- Dado, venha já para dentro!

-Já vou mamãe, já vou!

Pegou um dente-de-leão que crescia no quintal e levou para a sua mãe.

26-06-2012