Vida...

Nem posso perder muito tempo contando esmiuçadamente a minha saga, mesmo porque as pessoas hoje são muito ocupadas e corro o risco da história ficar pela metade e as pessoas menos ocupadas talvez não avaliem as catástrofes de um ser humano que não sabe o que está fazendo aqui. Se em algum dia, em algum lugar cheio de nevoa branca, alguém traçou minha vida, esse alguém devia ser mais confuso que eu e, numa trapalhada, deixou que eu rebentasse no mundo.

Quando a criança nasce ela se choca com a nova condição, sai de seu aconchego aquático surdo e calmo onde sequer tem a preocupação de respirar. Tudo o que tem a fazer e ficar ali, sem saber que está esperando vingar no mundo. O impacto com o ar que lhe abre os pulmões, os barulhos estranhos, o desconforto das mãos que a seguram é uma violência necessária ao prosseguimento da vida. Aos poucos o pequeno ser vai se adaptando aos sons, ao clima e se desenvolve ganhando volume igual uma massa de pão. Logo ele se torna um indivíduo (olha que sério!), passa a aprender conceitos básicos para ser feliz ou infeliz. Acontece que eu já estou adulta e continua doendo cada fôlego de ar e quanto mais eu vivo menos entendo os conceitos básicos da socialização. É como se estivesse nadando contra forte corrente. Encontro uma ilha mas estou redondamente enganada. Ouço o silêncio das vaias. Prossigo sozinha. Vou, vou e vou. Minha companhia é daquele que vem dizer que meu rumo está errado.

Vida dura essa que muitos dizem que escolhi. Vida doce essa que eu tive que engolir.

sonia dezute
Enviado por sonia dezute em 20/01/2013
Reeditado em 15/01/2016
Código do texto: T4095442
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