O SUJEITO II

O SUJEITO II

Hoje retornei a casa de minha mãe, parei o carro, deixei meus pensamentos passearem em cada canto da casa dela. A vi em seu quarto deitada, em sua cama que por inúmeras vezes a encontrei absorta, silenciada pelo desconhecido.

Fui ao hospital onde ela ficou um bom tempo andando para lá e para cá em busca de sua amada mãe. Passeei na pequena cidade onde por diversas vezes saía com ela no intuito de sentir sua alma acalmada.

Relembrei os tempos de infância, as suas lutas diárias, seu dinamismo e garra no trabalho, me orgulhei por ela sempre ocupar um alto cargo de confiança naquela pequena cidade , devido ao seu caráter.

Revivi momentos em busca de meus pais, minhas origens, meus princípios e todos os atributos que hoje fizeram de mim, o que sou.

Relembrei seus passeios e a vejo passar por mim, de braços dados com uma senhora, alheia a tudo e a todos, e por mais uma vez, não me reconheceu. Fico de longe a observando, andar tortuoso, corpo meio envergado, cabelos brancos como a neve.

Vou ao seu encontro, olhar distante, confuso, a chamo: Mãe!!!!!

- Quem é???? – Ela pergunta.

- Sou eu mãe, a Berna.

- Quem é Berna?

Sinto mais uma vez que não é mais a minha mãe quem pergunta, mas o sujeito que me deixou impassível diante do dragão, o sujeito que invade lares, famílias, detona corações, que vem como um vendaval nos desestruturando diante de uma realidade tão cruel.

Um sujeito que não respeita a quem quer que seja, simplesmente toma posse e nos deixa sufocada mesmo diante de um balão de oxigênio. Um sujeito que não se intimida com a medicina e muito menos com aqueles que possuem uma fé inabalável. Ele vem com uma força inesgotável, dilacerando emoções e nos deixando sem nossos entes queridos.

Voltei para vê-la em um domingo pela manhã, a encontrei em cima de uma cama com a boca aberta, cabelos esvoaçados, sentei ao seu lado, coloquei minhas mãos sobre as dela, ela estava gelada, mas ainda respirava bem de mansinho. Olhei para frente e vi o sujeito na cabeceira de sua cama...

Liguei o carro voltei para casa arrasada, perdida, desnorteada...

Mil perguntas na minha cabeça, entre elas: POR QUE?

No dia 05 de junho de 2012, dia seguinte, voltei a cidade.

A primeira pessoa com a qual me deparei, foi com o sujeito.

Minha mãe chamava-se JOSINA, o sujeito chama-se ALZHEIMER.