Tributo à Martha Medeiros

Já estou quase acabando a leitura do romance A Sombra de Vossas Asas, da Fernanda Young. Não quero largá-lo, mas a viagem de férias está marcada para amanhã cedinho e não terei tempo de terminá-lo antes disso. Também não poderei levá-lo à praia, pois logo no primeiro dia já iria findar a leitura, teria que comprar mais um ou dois livros e a mala de retorno ficaria muito gorda. Resolvo então deixá-lo em casa com o firme propósito de adquirir um livro tão logo chegue a Ibiraquera-SC.

Ao partir para a praia às 3 horas da manhã ainda passei a mão na estante e peguei um romance da L & PM Pocket: Assassinatos na Rua Morgue, do mestre dos mistérios Edgar Allan Poe. Pequeno que poderia passar despercebido em qualquer bolsa não causando transtorno algum por excesso de bagagem. Ufa! Ainda bem que fiz isso! E se não encontrasse algo para ler na praia? Ninguém merece! As pessoas que são taradas por leitura como eu, sabem da aflição que passei.

Aconteceu como pensei. Rapidamente terminei de ler o pequeno romance, refestelada em uma cadeira de praia e olhando o Oceano Atlântico. Ao meu lado, minha irmã – outra que é tarada por livros, lendo A Mulher Que Ri e meu marido lendo Os Crimes ABC, da Agatha Christie. E agora? O que vou ler? Fui até o Mercado do Guimarães, o qual já conhecia das outras quatro vezes que aqui veraneei. Foi nesse mercado que comprei há um tempo o melhor livro que li até hoje: A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini. Entrei rápida e certeira, mas a prateleira dos livros não estava mais lá, foi substituída por um mostruário de lindas e coloridas Havaianas.

- Como assim? Cadê os livros que você tinha aqui? – perguntei para a esposa do Guimarães.

- Ah! Não estamos mais vendendo livros. Estávamos tendo prejuízo por causa dos furtos.

- Furtos? Estavam furtando os livros?

- Sim, menina! Parece mentira, mas iam saindo com livros nas mãos e quando indagávamos, respondiam que haviam comprado os mesmos em outro lugar.

- Furto de livros? Fiquei pasma! E agora? Estava certa que aqui iria encontrar algo para ler! A senhora sabe se aqui no Ibiraquera encontro algum lugar que venda livros?

- Não sei te dizer. Acho que é mais certo conseguires em Imbituba.

Agradeci e saí decepcionada e pensativa. O que poderia ler? Não adiantava nem esperar que meus companheiros de viagem terminassem suas leituras porque Os Crimes ABC já li e A Mulher Que Ri, li e escrevi.

A salvação para meu tédio foi o jornal Zero Hora que meu marido trouxe de Imbituba e para minha alegria, era um exemplar de quarta-feira, dia em que a gaúcha Martha Medeiros escreve sua crônica. Voltei a ser feliz novamente. Já conheço a Zero Hora desde o tempo em que morava em Rio Grande-RS e nos últimos 30 anos acompanho esse noticiário pela Internet, mas às crônicas da Martha fui apresentada a pouco mais de um ano e já sou apaixonada.

São crônicas leves, macias, descem redondinhas. Admiro demais os escritos de Martha Medeiros e fico esperando com ansiedade que logo chegue a tão demorada quarta-feira. Não a conheço pessoalmente, não sei se é leal, correta, digna, honesta e corajosa. Tudo isso junto ou nada disso. Mulher com caráter, do bem ou do mal, casada ou solteira, com ou sem filhos, bonita ou horrorosa, baixa, alta, fofinha ou magérrima, mas sei que seus contos, crônicas e poesias são incríveis! Do que conheço dela através dos textos, para mim é linda, discreta, simples, honrada e feliz. E ai de quem vier a mim falar ao contrário! Viro bicho.

Identifico-me com os escritos de Martha Medeiros, concordo com suas ideias (apesar de achar que não precisamos concordar com os autores) e admiro-a por isso. É muita pretensão minha, mas às vezes parece-me que fui eu quem escreveu seus textos, tão próxima sua maneira de escrever é da minha!

No dia seguinte da leitura do jornal fomos passar o dia na Praia de Garopaba e a primeira coisa que fiz ao chegar lá foi entrar numa banca de revista. Folheei cerca de vinte livros entre eles O Xangô de Baker Street e O Homem que Matou Getúlio Vargas, ambos do Jô Soares, mas já li esses livros; vi também alguns romances espíritas e – qual foi minha surpresa – encontrei Doidas e Santas, da Martha Medeiros que sou fã! Comprei e fiquei abraçada carinhosamente a ele, como se fosse uma coleguinha de escola; alisando sua capa como se fosse um vestido novo e com um baita sorriso que dizia: Pronto! As férias estão salvas! Saí gritando e mostrando para sobrinhos, irmã e marido: Gente! Olhem o livro que comprei! Estou louca para ler!

Quem sofreu com essa compra foi minha irmã porque cada capítulo desse livro é uma crônica da Martha e a cada crônica que eu lia, fazia um comentário e ela tinha que parar de ler “A Mulher Que Ri” para prestar atenção em mim. Coitada.

Do jeito que eu comentava, dava a impressão a todos que a escritora Martha era minha amiga íntima. Era “gauchinha Martha” para cá, “gauchinha Martha” para lá, e ela nem sabe que eu existo! Tirei foto da capa do livro, postei no Facebook e enviei convite de amizade para a escritora. Para minha alegria, ela aceitou ser um dos meus contatos na rede social e foi aí, lendo seu perfil, que aprendi que a Martha não é gaúcha, é de Alagoas! E eu enchia a boca para falar dela como se fosse muito minha amiga quando na verdade nem sabia onde havia nascido! Bem feito para mim; quem manda querer aparecer mais do que merece?

As férias terminaram. Viagem de retorno para casa e à rotina. Não terminei de ler Doidas e Santas. Não quero terminá-lo. Quero curtir ao máximo. Não estou lendo por capítulo, estou lendo por parágrafos para deliciar-me vagarosamente dele, sem pressa, saboreá-lo, chupar o picolé e o palito, chupar a manga e lamber os dedos.

Que venham mais férias por aí ou feriados ou apenas finais de semana para continuar fazendo o que mais gosto: ler (ler Martha Medeiros)!

Simone Possas Fontana

janeiro/2013