Quando o amanhã não vem...

"Traume sind Schaume".

Sigmund Freud.

Tenho tantos sonhos nas mãos quanto os dedos são capazes de tocar. Eu odeio essas coisas que acontecerem só a mim, só comigo. Seria tão simples que em um único momento eu pudesse não ter este "make-up" pregado a face. Eu tenho um pouco de sorte, isto talvez possa compensar.

Um belo homem, os olhos que não vejo, inalcansável, e no entanto mortal como qualquer.

Aprendi a lição, não devo querer mudar o inevitável.

- "Você tem um belo sorriso..."

A noite persegue em flashes obtusos o vazio da minha mente, a vodca maltrata meus pulmões, as narinas ardem, sinto o calor, os suor escorre. Não o toco, no entanto desejo. Resigno-me com alguns nãos, alguns beijos mornos e talvez com nenhum futuro.

Por favor, se sou objeto, não faça ruídos, meu silêncio é esclarecido. Prezo o silêncio de meus pensamentos.

E no entanto sirvo apenas de vaso esquecido, quebrantado de magóas e ânseios. Não há esperança, não há tragédia... objeto a ser lembrado em uma noite qualquer. Não, ninguém!

Perco o Fausto da minha alma, o brilho se dissipa, as névoas se condensam. Tenho vontade de chorar, mas não devo. Vômito... Catarse...

Toda uma biblioteca não o salvará do mundo, lança-me cada vez mais longe; tenho medo. Não consigo me reconhecer em meu passado. Nos dias em que como Rimbaud tinha todos os vinhos a mão e a Beleza ao meu lado.

É.. o tempo não é tão grave como se pensa, em agudas notas ele me ultrapassa e me faz antever a escuridão que há em mim. Odeio aqueles que sobrevivem nas sombras coloridas de um filme ja esquecido.

Talvez eu devesse mesmo me entregar a uma metafísica mais coerente, que me tomasse pela mão, mas a única crença que consigo ter não está em um Deus morto que não aparece em tensões de um dia escuro, mas sim no mundo que vejo, sinto, persisto, persigo...

E cada vez um vazio maior, cada vez uma distãncia maior... cada vez mais... um olhar frio atravessar o vidro a noite, estrelas ocultas, suor, alucinação, o leito gélido de morte. De esquecido.

Se a morte for o mais puro silêncio e o inferno for a solidão absoluta, creio que já terei vencido meus males e terei assim a danação eterna...

Mas tudo o que eu queria era mais um gole de cicuta... lágrimas de sábio... e poder esperar um amanhã. Que tarda, que mora não ilusão... Eu habito um mundo em que não existe amanhã!

Ev
Enviado por Ev em 12/03/2007
Reeditado em 12/03/2007
Código do texto: T410005